Descrição:
Introdução: Este projeto de pesquisa objetiva investigar a produtividade da abordagem de gêneros do discurso advinda do Círculo de Bakhtin, centrando-se, principalmente, no exame da coerência e consistência de propostas de ensino de língua materna que assumem nela se fundamentar, e, assim, avaliar e discutir contribuições efetivas de tal abordagem para o ensino de língua materna. O nosso foco se situa sobretudo no processo de apropriação e incorporação pedagógica da noção de gêneros do discurso advinda do Círculo de Bakhtin em propostas de ensino e em discursos que versam sobre o ensino de língua materna. Nesse sentido, interessa a este projeto pesquisar não apenas práticas de sala de aula, atividades de livros didáticos e textos de alunos, mas também e principalmente examinar discursos de professores, de pesquisadores da linguagem e da educação e o discurso da mídia e internet, dentre outros, sobre o trabalho com gêneros do discurso no ensino, numa perspectiva de dimensionar possíveis implicações e contribuições ou não de propostas de ensino de língua materna que se fundamentam na referida abordagem. Objetivo geral: Investigar a produtividade da abordagem de gêneros do discurso advinda do Círculo de Bakhtin, centrando-se, principalmente, no exame da coerência e consistência de propostas de ensino de língua materna que assumem nela se fundamentar, e, assim, avaliar e discutir contribuições efetivas de tal abordagem para o ensino de língua materna. Objetivos Específicos: Analisar gêneros do discurso diversos, em seus aspectos temáticos, composicionais e estilísticos, privilegiando desde textos produzidos em contexto escolar a textos veiculados na mídia e em redes sociais, com vistas a construir compreensões sobre o funcionamento dialógico e ideológico de enunciados que permeiam as interações comunicativas em diferentes esferas da atividade humana; Investigar propostas de transposição da noção de gêneros do discurso para a sala de aula, focalizando a sua presença e formas de apropriação e exploração em atividades de leitura, produção de textos, análise linguística, como também em discursos oficiais do ensino, em materiais didáticos e no próprio discurso do professor;Examinar discursos que tematizam o trabalho com gêneros no ensino, em circulação em diferentes esferas da atividade comunicativa, procurando explorar os diálogos entre vozes da academia, vozes da mídia e de redes sociais e blogs, dentre outros canais, assim como as vozes que emanam do espaço da sala de aula, numa perspectiva de avaliar como esses diálogos influenciam (contribuindo ou não para) o trabalho do professor com esse objeto; Avaliar até que ponto aqueles trabalhos que focalizam textos na escola e que se declaram ancorados numa perspectiva bakhtiniana assumem efetivamente uma abordagem centrada nos gêneros do discurso, de maneira a dimensionar possíveis implicações e contribuições ou não dessa abordagem para o ensino de língua materna. Problematização/Justificativa do tema: a presente pesquisa se propõe a responder os seguintes questionamentos: como podemos avaliar, hoje, no nosso contexto, a incorporação dos gêneros do discurso na escola brasileira? Será que os professores já se sentem, de fato, preparados para lidar com os gêneros do discurso? Como o professor lida com o fenômeno das receitas/modelos didáticos de gêneros nas práticas de sala de aula? Como eles compreendem a sua formação inicial e continuada quanto ao direcionamento para o trabalho com gêneros na escola? Como eles dialogam com os discursos da universidade, da mídia e do mundo da internet (blogs, comunidades...) sobre gêneros? Que perspectiva (s) teórica (s) fundamenta (m) o trabalho com gêneros na escola e o que delas o professor compreende e como concebe o diálogo entre elas? Como o discurso da academia, da mídia e do mundo da internet (blogs, páginas, grupos de discussão, comunidades...) sobre gêneros e propostas didáticas de ensino de gêneros pode influenciar (contribuindo ou não) o trabalho do professor com esse objeto? Tomando como base teórica central as obras do Círculo de Bakhtin e estudos e reflexões de comentadores e pesquisadores que dialogam com elas, e também trazendo para o debate trabalhos sobre o ensino de língua materna (GERALDI, 2002, 2010a, 2010b; ANTUNES, 2002, 2003, 2009; ELIAS, 2011; dentre outros), este projeto de pesquisa objetiva dimensionar e problematizar a produtividade da abordagem de gêneros do discurso advinda do Círculo de Bakhtin, centrando-se, principalmente, no exame da coerência e consistência de propostas de ensino de língua materna que se encontram amparadas em tal abordagem e/ou que assumem nela se fundamentar, e, assim, avaliar e discutir contribuições efetivas de tal abordagem para o ensino de língua materna em escolas brasileiras. Procedimentos metodológicos: Assumindo a compreensão de que não se pode conceber o fazer científico sem a mediação de um conjunto de procedimentos e técnicas de pesquisa que respeite as especificidades de cada campo do saber, pretendemos, aqui apresentar os fundamentos teórico-metodológicos por meio dos quais buscamos orientar o nosso modo de fazer pesquisa e o conjunto de procedimentos que definirão o percurso da investigação que pretendemos realizar. Levando em conta que o presente projeto se situa no domínio dos estudos discursivos, mais precisamente no que se convencionou denominar, aqui no Brasil, de estudos bakhtinianos ou teoria/análise dialógica do discurso, pensar a questão metodológica da pesquisa se apresenta como um ponto fundamentalmente importante para o trabalho do pesquisador que segue essa linha teórico-metodológica. Isso porque, ainda que o Círculo de Bakhtin (2003, p. 371) conceba a metalinguística como uma “ciência especial (uma disciplina científica)”, com uma metodologia especial, não se trata, porém, de visualizar nos trabalhos de Bakhtin um método científico propriamente dito, pelo menos, não no sentido do “método positivista”, até porque, quando se trata de conceber a pesquisa em ciências humanas, é primordial considerar, conforme aponta Berthon (2000, sem paginação, grifos do autor), que “os métodos científicos das ciências da natureza, que sustentam os critérios de cientificidade nas representações sociais dominantes não podem ser aplicados ao domínio das ‘ciências humanas’” . Seguindo esse entendimento e em sintonia com uma epistemologia das ciências humanas como depreendida do pensamento bakhtiniano, assumimos que a construção do conhecimento está ligada ao papel ativo do sujeito pesquisador de escutar o seu objeto falar, no sentido de saber interpretar as palavras ou sinais que ele expressa. Seu papel é, portanto, de colocar em cena gestos interpretativos mediante contínua atribuição de sentidos. (FARACO, 2009), o que não pode nos levar ingenuamente a crer que o trabalho seja considerado não-científico ou subjetivo.Como o modo bakhtiniano de conceber a ciência tem na compreensão seu elemento central, o critério que conta não é a exatidão do conhecimento, mas a profundidade da penetração que se realiza no ato de compreensão entre o pesquisador e sua matéria-prima, o texto. Trata-se, portanto, de conceber a compreensão como método. Se, de acordo com a perspectiva de uma epistemologia das ciências humanas como depreendida do pensamento de Bakhtin, a construção do conhecimento se funda mediante o movimento dialógico da interpretação e deve perseguir a profundidade da compreensão, podemos caracterizar esse empreendimento investigativo como interpretativo. Ademais concordando com a visão de pesquisa qualitativa de Cresweell (2007), assumimos que o movimento interpretativo realizado pelo pesquisador compreende um percurso investigativo que pode incluir a descrição , a análise e a interpretação como procedimentos inter-relacionados, que colaboram para assegurar uma compreensão em profundidade do objeto de estudo. Por isso, dada a problemática de pesquisa e considerando os objetivos traçados, essa proposta de pesquisa pode assumir, em alguns de seus objetivos, uma perspectiva mais descritiva, para, em outros, centrar-se numa perspectiva mais analítica e interpretativa, sem, evidentemente, tomar esses procedimentos como momentos estanques e isolados no processo de pesquisa.
Para estudar essas questões apresentadas, tomaremos como fundamento teórico-metodológico central obras do Círculo de Bakhtin e estudos e reflexões de comentadores e pesquisadores que dialogam com elas, assim como trabalhos sobre o ensino de língua materna (GERALDI, 2002, 2010a, 2010b; ANTUNES, 2002, 2003, 2009; ELIAS, 2011; dentre outros). Como decorrência da opção teórico-metodológica que fazemos aqui, o presente projeto de pesquisa prevê como metodologia de análise o cotejo de textos e o paradigma indiciário, o que implica a possibilidade de se trabalhar com materialidades diversas, desde textos de alunos (mas não apenas destes), livros didáticos e documentos oficiais do ensino a instrumentais como notas de campo, entrevistas, memórias, dentre outros, por se entender que a compreensão como método, que baliza os estudos bakhtinianos, pressupõe assumir que os sentidos e os significados produzidos pelo homem são dados ao pesquisador apenas sob a forma de textos. Perspectivas de repercussão/Impactos para o ensino: Um projeto como este se justifica enquanto possibilidade de, a partir do exame das práticas sociais investigadas, produzir reflexões que contribuam para o (re)conhecimento de limites e avanços do trabalho com os gêneros do discurso na escola, numa perspectiva de pensar a melhoria do ensino de língua materna. Além disso, este projeto se insere numa perspectiva de melhor dimensionar as contribuições da abordagem bakhtiniana para o ensino de língua materna, colaborando, assim, para a vertente dos estudos bakhtinianos voltada para o ensino.