Descrição:
Introdução: O projeto de pesquisa que ora apresentamos pretende investigar a prática de contação de histórias na Educação Básica, buscando compreender em que medida essa atividade contribui para a mobilização da subjetividade e a emergência da criatividade na construção da aprendizagem do aluno. Nosso foco de investigação envolve compreender as categorias de contação de histórias, subjetividade e criatividade como aspectos que estão intrínsecos no processo de aprender. Com isso, esta proposta de pesquisa envolve investigar a relevância do ato de contar histórias enquanto prática cultural, presente na sociedade desde tempos imemoriais, sendo um elemento de extrema importância para a cultura, podendo contribuir para a mobilização da subjetividade e o aprimoramento da criatividade no decorrer do processo de aprendizagem. Nossa proposta parte da premissa de que a subjetividade e a criatividade são aspectos que fazem parte do processo de desenvolvimento do sujeito, e como tal estão relacionadas com o modo como os alunos desenvolvem a aprendizagem, além disso, partimos do pressuposto de que a contação de histórias é uma forma de mobilizar os elementos da subjetividade e despertar a criatividade, fazendo com que a aprendizagem se torne mais criativa e significativa para os alunos, em especial na etapa da Educação Básica.
Problematização/justificativa do tema: Em nossa sociedade, que apresenta um grau cada vez mais complexo em sua organização, somos impulsionados a refletir sobre os significados que a aprendizagem ofertada pela escola tem na formação do/a discente, enquanto sujeito que necessita de uma formação que vá além da simples decifração do código escrito ou da capacidade de realizar operações matemáticas. Partindo desse pressuposto, direcionaremos a presente pesquisa para a contação de histórias, compreendida aqui como um modo de comunicação que ultrapassa gerações, sendo efetivada desde que o homem começou a se organizar em grupos sociais. Contar histórias, tem sido um modo de desenvolver aspectos como cultura, criatividade, memória, literatura, arte, sendo que, recentemente muitos estudos se dedicam a compreender o papel que as histórias narradas exercem na formação do sujeito (FARIAS, 2011; MORAES, 2012; BEDRAN, 2012). A relevância de nossa investigação se justifica mediante a necessidade que nossa sociedade apresenta da compreensão de aspectos como a subjetividade e a criatividade, como abordados pelos estudiosos González Rey (2003, 2012, 2017) e Mitjáns Martínez (2000, 2005, 2012, 2014), para quem a criatividade se manifesta em função da emergência de sentidos e configurações subjetivas e atua na constituição do desenvolvimento subjetivo do sujeito, incluindo seu desenvolvimento cognitivo, sendo a contação de histórias uma forma bastante significativa de mobilizar essas configurações subjetivas no ambiente escolar. Esta pesquisa, torna-se ainda pertinente diante da necessidade de oportunizar uma aprendizagem mais significativa para os discentes da Educação Básica, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, incluindo a Educação de jovens e Adultos e/ou outras modalidades de ensino, entendendo que nessa etapa, o objetivo maior é o desenvolvimento do educando enquanto sujeito psicológico, social, cultural e cognitivo. Frente a isso, partimos da premissa de que a contação de histórias pode ser um viés expressivo para possibilitar a movimentação na subjetividade dos discentes e levá-los ao desenvolvimento da criatividade e a uma aprendizagem que possa atender melhor as necessidades formativas que o momento atual requer. Nesse sentido, pautamos nossa justificativa também nos estudos de (SISTO, 2012; YUNES, 2012; BEZERRA, 2020), que ressaltam a contação de histórias como uma atividade que envolve recursos subjetivos e criativos, capazes de estimular a aprendizagem de uma maneira mais valiosa para a formação do educando, já que mobiliza esforços cognitivos e emocionais.
Objetivos (geral e específicos): Geral - Investigar as práticas de contação de histórias na Educação Básica, com foco na contribuição desse fazer para a mobilização da subjetividade, a emergência da criatividade e a aprendizagem dos alunos. Específicos - Identificar elementos da subjetividade que são mobilizados na atividade de contação de histórias na Educação Básica e que contribuem para a emergência da criatividade dos alunos; Avaliar as expressões da criatividade nas atividades de contação de histórias e suas relações com a aprendizagem na Educação Básica; Compreender como se desencadeiam as configurações subjetivas que configuram a expressão criativa na prática de contação de histórias na etapa da Educação Básica; Analisar as contribuições que a prática de contar histórias apresenta para o processo de ensino-aprendizagem com vistas a desenvolver uma aprendizagem criativa a partir da mobilização da subjetividade.
Referencial teórico e metodologia: O aporte teórico que embasa esta proposta de pesquisa envolve a compreensão de estudos em torno da atividade de contação de histórias e das implicações desta na subjetividade, na criatividade e na aprendizagem dos educandos. Para tanto, precisamos levar em conta algumas considerações advindas dos apontamentos teóricos de Gonzalez Rey sobre subjetividade e de alguns de seus colaboradores, entre eles destacamos os estudos de Mitjáns Martínez sobre criatividade, além das pesquisas sobre a contação de histórias como uma prática relevante no desenvolvimento e aprendizagem no contexto escolar. Dentre as categorias teóricas mencionadas, destacamos de início a contação de histórias, como uma prática que está se destacando em nossa sociedade como uma forma artística valorosa na constituição da complexidade social, como enfoca Busatto, “contar histórias é uma arte porque traz significação ao propor um diálogo entre as diferentes dimensões do ser [...]” (BUSATTO, 2003, p. 10). Atualmente, a relação entre a contação de histórias e o desenvolvimento de aspectos cognitivos e emocionais que levam a uma melhor aprendizagem, vem sendo debatida por diversos estudos, dentre eles os que se voltam para a criatividade, como exemplo, trazemos a abordagem de Mitjáns Martínez (2014), para quem a criatividade se caracteriza como uma expressão da subjetividade do sujeito, que emerge a partir da inserção no mundo social, no qual atua ativamente a partir da convivência com o mundo e com o outro. A autora defende ainda que que a criatividade é algo complexo, que desperta a partir das experiências do sujeito nas interações sociais, ideia reforçada pelo pensamento de Morin, ao defender que “[...] nos mamíferos e nos primatas, e ao longo da hominização, não se pode separar o desenvolvimento do conhecimento e da inteligência do desenvolvimento das interações sociais” (MORIN, 2015a, p. 75). No tocante a abordagem da categoria subjetividade, partimos dos estudos de González Rey (2003, 2004, 2005, 2008, 2012, 2013, 2014, 2017) e seus colaboradores, sobre a subjetividade numa perspectiva histórico-cultural. Para o estudioso, a subjetividade é constituída por processos simbólicos e de sentidos no decorrer das relações sociais e nos processos sociais. Esses processos sociais e simbólicos, atuam no interior da realidade humana, colaborando na formação da personalidade e movimentando a subjetividade e a criatividade oriundas da interação do sujeito com o outro e com seu meio social. (BEZERRA, 2020). Para desenvolvermos a presente proposta de pesquisa, elegemos como caminho epistemológico e metodológico a pesquisa qualitativa, que de acordo com Bogdan e Biklen “[...] reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos [...]” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 51), tendo como suporte principal a epistemologia qualitativa, que de acordo com seu percursor, o pesquisador González Rey, parte de três princípios gerais, a saber: o conhecimento como uma produção construtivo-interpretativa; o caráter interativo do processo de produção do conhecimento; e a significação da singularidade como nível legítimo da produção do conhecimento. (GONZÁLEZ REY, 2005). Como método de análise, partimos do que o autor denominou de lógica configuracional, que surge como uma contraposição a indução e dedução e tem como modelo de análise o modo construtivo-interpretativo, envolvendo o confronto entre o teórico e o trabalho como prioridade na ação do pesquisador. Para o pesquisador mencionado, a lógica configuracional “[...] coloca o pesquisador no centro do processo produtivo [...]” (GONZALEZ REY, 2005, p. 127). Os instrumentos que elencamos para serem utilizados na construção da informação na pesquisa são os seguintes: observação participante, momentos informais, questionários, entrevistas, completamento de frases, narrativas autobiográficas, dinâmicas conversacionais, conflito de diálogo, entre outras formas que possam aproximar o pesquisador do cenário social da pesquisa e favorecer o processo de elaboração do conhecimento no decurso da pesquisa. No tocante ao espaço da pesquisa, elegemos como lócus de investigação as escolas de Educação Básica, nas quais as histórias serão contadas pelos professores/as e/ou mediadores/as de leitura, além de os/as pesquisadores/as, que poderão realizar intervenções nas salas de aula durante a construção das informações da pesquisa.
Perspectiva de repercussão/impactos/aplicação no ensino: Fortalecimento dos estudos científicos das categorias contação de histórias, subjetividade, criatividade e a aprendizagem dos alunos na Educação Básica; Contribuição com os estudos da linha de pesquisa Ensino de ciências humanas e sociais do PPGE – Programa de Pós-Graduação em Ensino/UERN; Envolvimento dos alunos da graduação na pesquisa científica; Fortalecimento da produção científica do grupo de pesquisa GEPPE; Articulação da universidade com a Educação Básica; Produção de artigos científicos para periódicos e eventos científicos; Organização de eventos científicos; Orientação de dissertação de mestrado.