Descrição:
• Introdução
Este projeto visa à investigação do potencial de textos multimodais para o efetivo engajamento dos alunos nos significados que subjazem a estes textos. O interesse nesses temas se dá por entendermos que o ensino de línguas que continua a enfatizar apenas um modo de linguagem, na maioria das vezes o modo verbal, não condiz com a realidade a que os alunos estão expostos. Além disso, entendemos que a cultura impressa e somente o código escrito, por exemplo, em detrimento de um trabalho que explore outros modos e outros recursos, numa perspectiva crítica de análise, é insuficiente para desenvolver o entendimento dos alunos dos significados multimodais presentes nos mais variados textos. Professores e alunos precisam estar preparados para a interpretação, para a produção e para a aplicação dos diferentes modos de linguagem dentro do contexto escolar, como também fora dele, nesse atual cenário social em que vivemos. Assim, esta proposta se fundamenta teoricamente na Semiótica Social e na multimodalidade, principalmente através de autores como Kress e van Leeuwen (1996, 2006, 2021), Kress (2010), Bezemer e Kress (2008, 2014, 2015, 2016), Callow (1999, 2005, 2006, 2008, 2013) e na teoria dos multiletramentos, a partir dos clássicos The New London Group (1996), além de Street (2014) e Gee (2015). Também serão muito importantes discussões construídas em contexto brasileiro que contemplam a multimodalidade, como Ribeiro (2016, 2021) e discussões sobre o letramento multimodal, digital e crítico representadas por Rojo (2012, 2019) e, dentre outros.
• Problematização/justificativa do tema:
A presente proposta de trabalho que tem como título “Semiótica Social, multimodalidade e multiletramentos no ensino de línguas: práticas docentes e materiais didáticos digitais e impressos” volta-se para a investigação e aplicabilidade efetiva das variadas modalidades da linguagem, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento da habilidade de ler os recursos multimodais presentes nos livros didáticos e em outros materiais didáticos e paradidáticos impressos e digitais, como de desenvolvimento da capacidade de entender os textos multimodais numa perspectiva crítica. Essa perspectiva envolve entender os significados implícitos e que não podem estar desvinculados do contexto social e cultural, em que estão inseridos. Consideremos que, nesse contexto multicultural, o nosso aluno-professor-pesquisador precisa ser formado com vistas a se tornar um agente de transformação social e precisa ter uma boa formação crítica para que possa, satisfatoriamente, desempenhar seu papel em sala de aula, quando tomar o lugar de professor. É relevante que busquemos sempre preparar, linguisticamente, o aluno para interagir na realidade em que vive e que procuremos capacitá-lo para “ler o mundo”, (FREIRE, 2011; DESCADERCI, 2002) na perspectiva da semiótica social, que significa ir além da mera decodificação, desenvolvendo letramentos que os preparem para as interações sociais. A interação, segundo a BNCC (BRASIL, 2018), deve ser pautada nos textos em uso.
No caso específico da língua inglesa (língua franca, como assume a BNCC), há a necessidade de “ampliação da visão de letramento, ou melhor, dos multiletramentos” (BRASIL, 2017, p. 242, grifo do próprio documento). De acordo com Silva (2016, p. 29), “o termo ‘Multiletramentos’ foi introduzido aos pesquisadores educacionais pelo ‘The New London Group’, em 1996. A ideia é “abranger os ‘multi’ dos novos letramentos de caráter multimodal, acarretados pelas novas ferramentas de acesso à comunicação e à informação (ROJO, 2012). O Grupo de Nova Londres (1996) ainda pontua a multiplicidade de linguagens e a multiplicidade de culturas, como responsáveis pela necessidade de desenvolver, não apenas os letramentos que envolvem o código verbal, mas também aqueles, que, como defende a BNCC, “aproximam e entrelaçam diferentes semioses e linguagens (verbal, visual, corporal, audiovisual), em um contínuo processo de significação contextualizado, dialógico e ideológico”. (BRASIL, 2017, p. 242). Essa multiplicidade de linguagens é o que chamamos de multimodalidade. Em um glossário apresentado em Ribeiro e Corrêa (2021), os autores conceituam a multimodalidade como um fenômeno em que diferentes modos semióticos são combinados e integrados em situações comunicativas e destacam que multimodalidade não é apenas a soma de linguagens, mas a interação entre linguagens diferentes em um mesmo texto. Ainda de acordo com os autores, multimodalidade é vista, por exemplo, quando gestos e expressões faciais se unem à linguagem verbal. “Outro exemplo é visto nos livros infantis que usam diferentes texturas, cheiros e até mesmo figuras que saltam de suas páginas para estimular os sentidos das crianças” (RIBEIRO, CORRÊA, 2021, p. 112).
No que se refere ao ensino de línguas, acreditamos que a multimodalidade é uma abordagem de grande relevância, visto que, capacitar o aluno a entender a diversidade linguística e cultural de alguns países, perceber tendenciosidades, preconceitos, discursos dominantes e outros significados que podem vir imbuídos nos mais diferentes gêneros e mediados pelos mais diversos modos semióticos, não é uma prática dispensável. É necessário, segundo a BNCC, voltar-nos para “o respeito às diferenças, e para a compreensão de como elas são produzidas nas diversas práticas sociais de linguagem, o que favorece a reflexão crítica sobre diferentes modos de ver e de analisar o mundo, o(s) outro(s) e a si mesmo”.
Portanto, a nossa proposta é que não apenas o texto verbal possa ser objeto de ensino e de pesquisa no curso de Mestrado em Ensino, mas também, que a linguagem multimodal, numa perspectiva crítica, faça parte dos letramentos a serem desenvolvidos pelos nossos alunos-professores-pesquisadores. E que, como consequência, essa abordagem e essa nova maneira de “ver” o ensino de línguas, seja através do material didático ou através da abordagem do professor, passe a ser divulgado em universidades e em escolas básicas, sobretudo nas públicas.
• Objetivos (geral e específicos):
Objetivo geral: Promover a realização de pesquisas e de debates sobre os novos modos de linguagem, bem como sobre a inserção de textos multimodais no ensino de línguas, de maneira a desenvolver os letramentos necessários ao engajamento dos alunos nos mais diversos contextos sociais, onde tais textos circulam, sejam estes impressos ou digitais.
Objetivos específicos: i) Realizar pesquisas que preparem os alunos para explorar e aplicar novas formas de comunicação na sala de aula de línguas (materna e estrangeiras); ii) Divulgar e disponibilizar referências para estudos sobre os multiletramentos e sobre a multimodalidade no ensino de línguas; iii) Realizar divulgação e publicação dos resultados na UERN, nas escolas, em eventos científicos, a partir de minicursos, oficinas, disciplinas, grupos temáticos em eventos, palestras, conferências, e de publicações em anais de congressos e em periódicos; iv) Oportunizar a interdisciplinaridade entre disciplinas que versem sobre ensino do multimodal, tecnologias digitais e ensino de línguas, ensino da leitura e escrita sob orientação da Linguística Aplicada (LA); v) Verificar, com base nos estudos teóricos, os processos de construção de sentidos a partir dos diversos modos de linguagem, em especial do modo visual; vi) Analisar as condições de produção, circulação, ensino e funcionalidade dos textos multimodais em contextos de sala de aula; vii) Observar como se dá o processo de desenvolvimento do letramento crítico na interpretação e na produção dos textos multimodais (fotografias, charges, memes, reels, remixes, deepfakes etc.); viii) Examinar como se desenvolve o uso e a articulação do texto multimodal, em diferentes contextos, em especial nas abordagens de ensino línguas (nos livros didáticos, paradidáticos e na interação de sala de aula); ix) Discutir a estreita relação entre leitor e produtor do texto multimodal, a partir da contribuição das tecnologias digitais, incluindo redes sócias como WhatsApp, Instagram, Youtube, Tik Tok e outras, para o ensino de línguas; x) Observar o potencial das imagens, do som, do movimento, do gesto e de outros recursos multimodais para manifestar discursos tendenciosos e excludentes.
• Metodologia
Caracterização da pesquisa: Orientado pelos postulados da Linguística Aplicada, o projeto ora apresentado se insere no universo das ciências sociais, aplicado ao ensino de línguas, e se constitui como sendo de natureza primordialmente descritiva e interpretativista, podendo ter características etnográficas, de campo e exploratória, com análise qualitativa. Apresenta, como objetos de análise, textos mais intensamente multimodais, que circulam nos espaços midiáticos, escolares, acadêmicos e que são inseridos nos livros didáticos e/ou nas salas de aulas de línguas, constituindo-se materiais de ensino e de aprendizagem potencialmente imbuídos de significados.
Universo de estudo: O universo de estudo desse projeto se constitui de materiais didáticos multimodais utilizados nos contextos de educação básica. Convém que analisemos a diversidade de recursos, em especial aqueles visuais, gestuais e sonoros, em articulação com os escritos, presentes nos textos que circulam atualmente e que requerem novos e múltiplos letramentos por parte dos alunos. É necessário também que procuremos estimular a reflexão sobre os fatores que assinalam a necessidade do desenvolvimento dos multletramentos, como a multiculturalidade, as tecnologias digitais e as novas formas de comunicação e de vida dos alunos fora da escola, que é o que justifica o seu uso na sala de aula.