A presente pesquisa objetiva analisar as estratégias utilizadas na tradução de itens
culturais-específicos (ICEs) na antologia The complete stories, de Clarice Lispector
(1920-1977). A coletânea de contos foi publicada em 2015, nos Estados Unidos, com
tradução de Katrina Dodson e edição do pesquisador e biógrafo da autora, Benjamin
Moser, pela editora New Directions. Em 2016, a coletânea foi lançada no Brasil, pela
editora Rocco, com o título Todos os contos. O livro foi elogiado pela crítica norteamericana e figurou entre os 100 melhores de 2015 na lista do The New York Times, além
de entrar para o ranking das melhores capas do ano do mesmo jornal. Em 2016, Dodson
recebeu, inclusive, o consagrado Pen Translation Prize - prêmio de melhor tradução dado
pela organização PEN American Center. Para investigar as implicações de diferentes
escolhas na tradução dos ICEs, foi necessário: 1. identificar e categorizar as expressões
nos contos de Clarice que se configuram como ICEs; 2. identificar e categorizar as
estratégias utilizadas na tradução dos ICEs; e 3. refletir sobre como as estratégias
tradutórias afetaram a (in)visibilidade do trabalho da tradutora na cultura de chegada. Para
alcançar tais objetivos, a fundamentação teórica parte dos seguintes eixos teóricos:
tradução literária e suas implicações culturais (BASSNETT, 2003; LEFEVERE, 2007);
itens culturais-específicos, estratégias de tratamento e as noções de estrangeirização e
domesticação (AIXELÁ, 2013; VENUTI, 2008); e a teoria da invisibilidade do tradutor
(VENUTI, 2008). A pesquisa é de natureza e quanti-qualitativa e no campo dos estudos
da tradução, se insere na área da análise de tradução de gêneros literários (prosa ficcional)
(WILLIAM; CHESTERMAN, 2002). A pesquisa foi realizada através do levantamento,
delimitação e categorização do corpus, que consiste em três categorias para análise:
nomes próprios literários, expressões idiomáticas e expressões criadas pela autora (a
partir de referências culturais existentes). Os resultados da análise apontam para a
coexistência de estratégias estrangeirizadoras e domesticadoras em diferentes níveis,
sinalizando, assim, para a configuração dinâmica e complexa desse tipo de termos na
escrita de Clarice Lispector, que produz sensações de estranhamento construídas a partir
não apenas da distância cultural entre as línguas portuguesa e inglesa, mas também a
partir da maneira engenhosa com a qual a autora lida com a linguagem. As constatações
também sugerem uma posição de desdobramento entre tradução e criação por parte da
tradutora.