Este estudo investiga o patrimônio cultural na perspectiva da classe trabalhadora, sob o viés do materialismo histórico, e se constrói através da análise do patrimônio industrial e da memória operária. O patrimônio industrial é apresentado segundo seu processo de consolida-ção como campo de estudo que se desdobra da arqueologia industrial, desenvolvida a partir dos anos 50 na Inglaterra e que apresenta uma história voltada para o progresso, na qual os conflitos sociais são camuflados, trazendo-se como contraponto a possibilidade de construção da categoria do patrimônio operário. Analisa-se a produção científica acerca do patrimônio in-dustrial nos anos 2000, que demonstra expressiva participação do campo da Arquitetura e Ur-banismo, e realiza-se um levantamento do patrimônio industrial da cidade do Rio de Janeiro, assim como a revisão teórica dos valores culturais do patrimônio. A memória operária, por sua vez, é situada através das contribuições de universidades do Rio de Janeiro a partir dos anos 80 e apresentada através de diferentes cenários de conflito na zona sul e no centro da cidade entre as décadas de 60 e 80, de modo a demonstrar seu apagamento. A memória é então analisada como possível expressão e veículo da consciência de classe a partir do caso-referência de Bangu, que é apresentado por meio de seu patrimônio industrial e do depoimento de moradores de diferentes gerações. Tais relatos abarcam a trajetória de operários da Fábrica Bangu e a chegada de novos trabalhadores ao bairro, perpassando momentos traumáticos da memória da classe e trazendo caminhos para o debate de um patrimônio da classe trabalhadora em seu sentido am-pliado, diante de suas transformações no século XXI.