O objetivo geral deste trabalho foi identificar o ideal de governante português no século XVI presente no texto de D. Sancho de Noronha, o Tratado moral de louvores e perigos de alguns estados seculares e das obrigações que neles há com exortação em cada estado de que se trata, impresso em Portugal no ano de 1549. A obra foi dedicada ao infante D. João, filho de D. João III. Baseando-se na fé católica, o conde de Odemira, título honorífico de Noronha, busca, em seu livro, aconselhar o príncipe a, quando se tornar rei, governar de maneira virtuosa e sensata. Tal produção se inscreve no chamado gênero literário que trata dos Espelhos de Príncipes. Os Espelhos, em sua tradição medieval, são tratados políticos redigidos sob a perspectiva cristã, em que se observa, com o passar dos séculos, a incorporação dos componentes culturais de vertente bíblica com modelos da antiguidade clássica, como reis e filósofos. Com influências do humanismo italiano, já na Dinastia de Avis, o século XVI português estruturado segundo o modelo da hierarquia eclesiástica, passa por uma renovação em vários campos da cultura. É nesse cenário que se tem a necessidade de tratados, dotados de uma ética cristã com ares propagandísticos da monarquia. Ao estudarmos o contexto em que a fonte foi escrita, junto de reflexões acerca do regime medieval, o governo das almas, e o gênero dos Espelhos de Príncipes, julgamos possível estabelecer uma relação entre a construção de um governante ideal atrelada à compreensão da sociedade política do período estudado. Para atender a tais demandas, recorremos aos aportes teóricos metodológicos da História da Educação, assim, privilegiamos a análise de fontes e um levantamento bibliográfico criterioso de obras que abordam nosso tema, buscando responder: “qual o ideal de governante português presente no tratado de Noronha?”