Nesta pesquisa, buscamos compreender como os discursos da/sobre a(s) mulher(es) produzem sentidos na poesia digital de Ryane Leão, publicada na página do Instagram Onde jazz meu coração. Leão publica desde imagens dos lambe-lambes, cartazes poéticos que espalhava pelas ruas de São Paulo, até instapoesias, que abordam temáticas sobre ser mulher e negra, e sobre o amor e relacionamentos abusivos. Filiados à análise do discurso materialista, desenvolvida por Michel Pêcheux e reterritorializada por Eni Orlandi no Brasil, consideramos que o texto não funciona como uma unidade linguística fechada em si e que a língua não é um sistema independente das relações sociais. Assim, trabalhamos com um objeto científico diferente: o discurso, constituído por relações de sentidos. Dessa forma, tomaremos a instapoesia de Ryane Leão como discursos, produzidos a partir de determinadas condições de produção, ou seja, de uma exterioridade constitutiva dos sentidos, composta essencialmente pelos sujeitos discursivos, o contexto sócio-histórico e a memória. O objetivo é investigar o processo de significação da/sobre a(s) mulher(es) na página Onde jazz meu coração, considerando que não há uma transparência nesses sentidos. Para atingi-lo, será realizada uma análise sobre as condições de produção, com destaque para o contexto imediato
de formulação dos discursos, relacionando diversos meios e o espaço digital de publicação das postagens. Além disso, consideraremos também o contexto sócio-histórico das publicações, assim como os sujeitos discursivos, a partir das imagens que o sujeito faz de si e da(s) mulher(es). A respeito do corpus, observamos as publicações no período entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2020, recortando postagens que faziam referência à(s) mulher(es). Nesse gesto de análise, dividimos as publicações em três tipos específicos: Mulher e arte de rua, Mulher e instapoesia e Mulher e escrita no corpo. Estes tipos compõem os eixos de análise, nos quais analisamos,
respectivamente, as relações entre a(s) mulher(es) e o espaço urbano, a(s) mulher(es) e o contexto digital e a(s) mulher(es) e a tatuagem. Nessa perspectiva, veremos que os meios nunca são neutros e a mudança nas materialidades discursivas nas quais são formulados os discursos mobiliza diferentes sentidos. Enquanto na arte de rua, a mulher se significa através da manifestação social, mobilizando sentidos de resistência, na instapoesia e na tatuagem, há um deslizamento das significações que perpassam a lógica capitalista presente na nossa formação social.