A região centro-ocidental do Estado do Paraná, onde está situado o curso médio do rio Piquiri, é
caracterizada por relevo de planaltos suaves, dominados por superfícies de aplainamento
desenvolvidas sobre patamares de derrames vulcânicos. Pouco interesse houve, por parte de
outros pesquisadores, em estudar o contexto tectônico da região, principalmente em razão das
características morfológicas de sua paisagem, que sugerem pouca movimentação. Contudo, um
levantamento detalhado das Zonas de Falhas que afetam esta região foi feito neste estudo e indica
que, ao contrário do que se imaginava, a região possui fortes evidências de atividade tectônica. O
presente estudo teve como objetivo propor um modelo de evolução tectônica da porção central da
Bacia Sedimentar do Paraná e entender de que forma as zonas de falhas e os mecanismos de
erosão afetam os sistemas de drenagem da porção média da bacia hidrográfica do rio Piquiri. Por
sua vez, esta tese se resume em quatro análises. A análise estrutural e tectônica foi feita a partir
do levantamento dos tipos de falhas que apresentavam indicação cinemática em quatro pedreiras
da região. Em sua maioria, as falhas são transcorrentes e apresentam alto ângulo e estrias e steps
de baixo caimento. Essa análise demonstrou que a região foi afetada por até quatro eventos
deformadores a partir do Cretáceo. Os quatro eventos apresentam SHmax sub-horizontal e caráter
de transcorrência pura para transtensional, sendo o mais recente definido a partir do Pleistoceno,
com SHmax orientado em N67W. Estes eventos tiveram importante significado no controle de
alguns rios da região. O evento E4 (Pleistoceno) foi responsável pela reativação dextral de falhas
N60-70E (direção Guaxupé) e N70-90W, e sinistral de falhas N0-30W e N30-60W. Estão
associados a estas falhas lineamentos afetando os aluviões no cinturão meândrico do rio GoioErê, deformações em leito rochoso no rio Piquiri, associado à nucleação da anomalia de drenagem
denominada de “apertados” em Formosa do Oeste (PR), a geração de diques falhados na Zona de
Falha Curitiba-Maringá, além de registros de deformações em sedimentos Quaternários do rio
Paraná e em arenitos da Formação Marília (SP). A análise topológica da rede de drenagem foi
feita com o objetivo de compreender de que forma as estruturas tectônicas controlam o número
de confluências anômalas e afetam a distribuição hierárquica de canais dentro das bacias em
ambiente intraplaca. Este estudo estabelece um conjunto de variáveis que interferem no Índice de
Anomalia Hierárquica (Δa), relacionado ao número de confluências anômalas, como as variações
da densidade de drenagem dentro das bacias e a orientação das zonas de falhas. O coeficiente de
regressão da distribuição hierárquica de canais dentro das bacias (R
2
) demonstrou que 71% das
bacias são compatíveis com o local de junção tributária responsável pelo alcance do canal de
última ordem dentro da bacia. Os resultados demonstraram que o local em que os rios alcançam
o canal de última ordem interfere diretamente nos valores de R
2
. A análise de evolução do relevo
foi feita a partir de processamentos em ambiente SIG, como os mapas de erosão de massa mínima
e de concentração de rugosidade (ICR). Esta análise identificou uma zona de transição bem
definida entre uma paisagem transiente, mais erosiva, e uma paisagem relictual, menos erosiva.
Os pulsos de erosão se deslocam de leste para oeste e envolvem o processo de capturas de
drenagem por decapitação. Curiosamente, este mecanismo ocorre de montante para jusante na
bacia do rio Piquiri e aparenta ter sido gerado por pulsos de soerguimento intermitentes da borda
leste do Planalto Basáltico. Por fim, a análise sobre a distribuição de knickpoints indica que estes
pontos de quebra são fortemente controlados por transições litológicas basálticas, por diques
associados ao Alinhamento do Rio Piquiri e pelas Zonas de Falhas que afetam a área de estudo,
sobretudo as falhas reativadas pelo evento E4. Os knickpoints são, em sua maioria, de degrau
vertical, e os mecanismos de erosão identificados no Salto do Paiquere, no rio Goio-Erê, indicam
que são knickpoints móveis que evoluem por processo de substituição. De forma contrária, os
knickpoints sustentados pelos diques associados ao Alinhamento do Rio Piquiri estão ancorados
na paisagem. A velocidade de propagação de alguns knickpoints a partir de suas junções
tributárias obedecem à lei de potência relacionada à área de contribuição da drenagem. Portanto,
alguns knickpoints possuem a mesma gênese e indicam que a região é afetada por mudanças de
nível de base, por vezes controladas por variações litológicas interderrame e arenito-basalto, por
vezes associadas a pulsos de soerguimento intermitentes e discretos.