O Movimento Escola Sem Partido (MESP) tem tido, nas últimas duas décadas, uma visibilidade acadêmica e midiática, em virtude de suas propostas de cerceamento à liberdade de cátedra dos docentes. Sob as alegações de que os docentes estão realizando doutrinação política e ideológica em alunos “indefesos” e “inocentes”, à mercê de professores “maléficos” e “mal-intencionados”, o MESP tem mobilizado amplos setores da sociedade brasileira, no sentido de aprovar legislação restritiva à liberdade de cátedra e fala dos docentes. Quanto à realidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Mossoró, constatamos, mediante aplicação dos questionários de diagnósticos inicial e final, da realização de rodas de conversa, que uma parcela dos docentes possui conhecimentos acerca das bases conceituais da EPT e do ideário político-pedagógico do MESP, enquanto outra parcela desconhece a temática. Em face desse cenário, elegemos a seguinte questão de pesquisa: como podemos contribuir para uma percepção crítica e autônoma dos docentes, face ao ideário do MESP e suas implicações na proposta de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica. Para responder este questionamento, propomos como objetivo geral: investigar o ideário do MESP e suas implicações na proposta do EMI à EPT, por meio de uma intervenção pedagógica no IFRN/Campus Mossoró, implementada mediante oferta de um curso de formação pedagógica e continuada, com vistas à construção de uma percepção crítica e autônoma dos docentes. Como desdobramento deste objetivo geral, estabelecemos os objetivos específicos: 1) refletir sobre o ideário político-pedagógico proposto pelo MESP em relação à educação; 2) ampliar os conhecimentos prévios dos docentes sobre as bases conceituais da EPT e o ideário político-pedagógico do MESP, a partir de intervenção pedagógica; 3) avaliar as contribuições do curso de atividade formativa para a construção de uma percepção crítica e autônoma dos docentes sobre a EPT, o EMI e o ideário político-pedagógico do MESP. Quanto à metodologia, realizamos uma pesquisa qualitativa, de natureza aplicada, com levantamento bibliográfico acerca do MESP e da EPT. Para atingirmos os objetivos propostos na pesquisa, utilizamos como referencial metodológico a pesquisa do tipo intervenção pedagógica a partir de Damiani (2012; 2013), Gil (2019), Mynaio (2016); a análise de conteúdo a partir de Bardin (2016), Fossá e Silva (2015); a pedagogia histórico-crítica dos conteúdos a partir de Saviani (2011); a roda de conversa a partir de Machado (2015) e Soares (2019). Como referencial teórico/epistemológico, abordamos as bases conceituais da EPT a partir de Ciavatta (2005; 2009; 2019), Frigotto (2000; 2005a; 2005b; 2008; 2016), Ramos (2005; 2008; 2014), Gramsci (1982; 2001), Marx (1982; 2007; 2008; 2011; 2013), Moura (2013), Saviani (1989; 2003; 2007a; 2007b; 2008; 2011) e o ideário político-pedagógico do MESP com base em Algebaile (2017), Arendt (2004), Cara (2016), Frigotto (2017), Moreira (2012), Penna (2017), Ratier (2016), Rocha (2020), Silva et al. (2016) e Weber (1917), dentre outros. A partir deste referencial, realizamos a elaboração de um produto educacional, com diagnóstico inicial – identificando os conhecimentos prévios e perfil acadêmico dos participantes –, planejamento e implementação, cuja avaliação ocorreu mediante rodas de conversas e diagnóstico final, os quais constituíram instrumentos de produção de dados, que foram tratados à luz da análise de conteúdo em Bardin (2016); Fossá e Silva (2015), possibilitando realizar inferências e obter resultados sobre a intervenção realizada. Concluímos que a proposta interventiva propiciou uma mudança de percepção nos participantes acerca das bases conceituais da EPT e do ideário político-pedagógico do MESP.