O objetivo desta dissertação foi investigar se os Odontopediatras brasileiros conhecem o Tratamento Endodôntico Não-Instrumental (TENI), se o realizam e de que forma o fazem; e também, contribuir para sua decisão clínica através da avaliação de propriedades físicoquímicas e de citotoxicidade das pastas antibióticas mais relatadas na literatura. Para isso, foram realizados dois estudos. O primeiro foi um estudo observacional transversal no qual dados sobre a formação acadêmica e prática profissional de Odontopediatras brasileiros, seu conhecimento
sobre TENI e o protocolo clínico por eles usados foram obtidos por meio de questionário online autoaplicável. A amostra final foi composta por 1.093 questionários válidos de todos os estados brasileiros. Mais da metade cursou Odontopediatria em instituição privada (56,91%), localizada em metrópole (70,72%), e atualmente atua em metrópole (52,42%), apenas em clínicas privadas (58,65%). Dentre eles, 813 conhecem o TENI (78,5%), enquanto 527 participantes o realizam.Entre os praticantes, 43,87% preferem isolamento relativo com irrigação (86,96%) com
hipoclorito (45,45%), removendo apenas a polpa da câmara pulpar e entrada dos canais (52,17%) com colher de dentina (90,71%) sem alargamento entrada dos canais (56,13%) com aplicação da pasta CTZ (80,04%) e cimento de ionômero de vidro como material restaurador (87,55%). A maioria dos participantes conhece (p=0,047) e realiza TENI (p=0,029) independente do município de atuação, o que também não influenciou nas características dos
protocolos (p>0,05). Trabalhar no setor privado influenciou se eles indicam TENI (p=0,006) e optam por realizá-lo (p=0,002). O segundo estudo avaliou comparativamente in vitro as formulações de pastas antibióticas mais citadas na literatura (CTZ e duas pastas triantibióticas diferentes) quanto às propriedades de escoamento, radiopacidade, pH e citotoxicidade. Para avaliação do escoamento, 0,05mL de cada pasta (n=3) foi coberto com uma placa de vidro; os diâmetros dos discos formados foram medidos. Para radiopacidade, as amostras (n=3) foram radiografadas junto a uma escala de alumínio; os resultados foram convertidos em milímetros de alumínio. Para medir o pH, as suspensões de pastas em água Milli-Q (100mg/mL) (n=4) foram avaliadas de 1 a 336 horas. A citotoxicidade das pastas foi avaliada em osteoblastos humanos (SaOs-2), expostos aos extratos diluídos em meio de cultura DMEM (n=5), por 24h,
por atividade metabólica (ensaio de MTT). A viabilidade celular foi determinada como porcentagem do controle, meio de cultura não condicionado. Os dados foram analisados por meio dos testes ANOVA e Tukey (p <0,05; IC95%). Assim, os valores médios de fluxo de 3Mix1 foram os mais altos. Os valores médios de radiopacidade em milímetros de alumínio foram: 8,72 (CTZ), 0,41 (3Mix1) e 0,43 (3Mix3). Os valores de pH foram estatisticamente semelhantes entre as pastas 3Mix1, mas diferentes para CTZ. A pasta CTZ foi considerada não citotóxica e as demais, pouco citotóxicas. Concluiu-se que o Odontopediatra brasileiro conhece a Técnica Endodôntica Não Instrumental e a realiza com uma grande variedade de protocolos clínicos, nem sempre de acordo com a literatura. Ademais, as pastas testadas apresentaram baixos valores de escoamento e pH, e as pastas 3Mix apresentaram menor radiopacidade em relação à pasta CTZ, a única não citotóxica.