Somos (1973-1976) e Lampião da Esquina (1978-1981) foram periódicos que circularam,
respectivamente, na Argentina e no Brasil, em um contexto histórico marcado pelos
autoritarismos e ditaduras militares no século XX. Estes periódicos produziram uma
identidade política que compunham as disputas de identidade estabelecidas dentro da
comunidade homossexual do período. Esta dissertação tem por objetivo analisar e
interpretar estes periódicos, para compreender quais identidades foram formadas naquele
período, assim como também, evidenciar as disputas que vinham do gueto e se
apresentavam nas páginas dos jornais. Na leitura de um historiador estadunidense,
radicado na Holanda, Peter Drucker, esse era um momento histórico particular de
invenção da nova homonormativade. Isto é, um período em que o regime político das
formações de mesmo sexo foi definido pela constante aproximação entre
homossexualidade e capitalismo. Essa identidade seria marcada pela forte perspectiva
política e performativa de assimilação social. Nesse sentido, esta dissertação analisa se as
identidades presentes em Somos e Lampião da Esquina correspondem fielmente a essa
compreensão histórica. A hipótese deste trabalho considera que, apesar das disputas
identitárias presentes nestes jornais, a nova homonormatividade, em ambos os contextos,
não foi consolidada. A particularidade latino-americana dos contextos ditatoriais fez esse
regime tornar-se impossível naquele período. Entretanto, é possível demarcar que as
bases deste regime estariam presentes nas disputas de identidade com a crescente adoção
de uma perspectiva, que afastava e excluía do processo de redefinição das representações
da homossexualidade, a feminilidade, e, por consequência, a presença de locas e bichas.
A escrita desta dissertação foi afetada pelos impactos econômicos, políticos e sociais
gerados pela pandemia da COVID-19. Esta pesquisa avança, ainda que em pequenos
passos, no processo de compreensão da construção da cidadania homossexual, na
Argentina e no Brasil, podendo ser instrumentalizada na consolidação de políticas
públicas de humanização de pessoas LGBTI+.