O sulfato de hidroxicloroquina (HCQ) é um agente antimalárico e atualmente vem sendo
amplamente utilizado no tratamento da artrite reumatoide (aguda ou crônica refratária) e do
lúpus eritematoso (discoide crônico ou sistêmico). É comercializado no território brasileiro
como medicamento genérico e similar, sob a forma farmacêutica comprimido revestido, teor
declarado de 400,0 mg. Para fins de registro de medicamento genérico e similar, é exigida
pela ANVISA a comprovação de qualidade, eficácia, segurança e também da equivalência
terapêutica, de modo a garantir a intercambialidade entre os mesmos e o respectivo
medicamento de referência. A comprovação da equivalência terapêutica ocorre por meio da
execução dos estudos de equivalência farmacêutica, com testes in vitro, e estudos de
biodisponibilidade, com testes in vivo (ANVISA, 2010). Para realização dos testes in vitro
empregados no estudo de equivalência farmacêutica, adotam-se prioritariamente os ensaios
descritos na Farmacopeia Brasileira, e na ausência destes, aplicam-se os ensaios de outros
compêndios autorizados. Na atual edição da Farmacopeia Brasileira não consta monografia
específica para insumo farmacêutico ativo sulfato de hidroxicloroquina e nem para forma
farmacêutica de comprimido revestido comercializada. Neste contexto, o objetivo desse
trabalho consistiu em desenvolver e validar um método para o ensaio de dissolução e de perfil
de dissolução comparativo para os comprimidos revestidos de HCQ, obedecendo às normas
da ANVISA. Também foi desenvolvido e validado um método analítico por cromatografia
líquida de alta eficiência (CLAE) indicativo de estabilidade para quantificação da HCQ em
comprimidos revestidos. Além disso, objetivou-se realizar os estudos de equivalência
farmacêutica aplicando-se os métodos desenvolvidos e validados. O método de dissolução,
desenvolvido conforme as diretrizes estabelecidas pela ANVISA na RDC nº 31/2010 e na
nota técnica nº 003/2013, demonstrou-se adequado à execução dos estudos de perfil de
dissolução comparativo para os comprimidos revestidos de HCQ, que apresentaram
dissolução rápida (> 85,0 % em até 30 minutos). O método por cromatografia a líquido de alta
eficiência desenvolvido foi otimizado por abordagem multivariada, usando-se as ferramentas
de planejamento fatorial completo 2 3 , matriz de Doehlert e metodologia de superfície de
resposta (MSR). A fase móvel, selecionada a partir da análise da variação do LogD da
molécula de HCQ em função da variação do pH, composta pela mistura de solução tampão
pH 2,2 e metanol na proporção 74:26 (v/v), se mostrou satisfatória para a eluição do IFA, com
soluções na faixa de concentração de 4,0 a 44,0 μg.mL -1 e detecção em tempo inferior a 5,0
minutos. A adequabilidade do sistema cromatográfico foi ajustada às condições de 6.552,40 pratos teóricos, fator capacidade de 3,74, assimetria na linha de base a 1,41, e assimetria a
10,0 % da altura do pico igual a 1,35. O método analítico indicativo de estabilidade,
demonstrou-se apropriado para a execução dos testes de perfil de dissolução comparativo nos
estudos de equivalência farmacêutica, atendendo às exigências da RDC nº 31/2010. Os
resultados obtidos na validação de ambos os métodos analíticos desenvolvidos apresentaram-
se em concordância com os requisitos da RDC nº 166/2017. Os estudos de equivalência
farmacêutica mostraram que o lote do produto similar avaliado não é equivalente
farmacêutico do medicamento de referência (Plaquinol® | Sanofi-Aventis), e, portanto, não é
intercambiável com o mesmo, sendo inadequado ao uso clínico e descumprindo as
determinações estabelecidas pela ANVISA na RDC nº 31/2010. O presente trabalho
demonstra que é imprescindível a aplicação de metodologias adequadas para a execução dos
ensaios de controle de qualidade de medicamentos, visto que, embora a legislação nacional
vigente seja rigorosa na concessão dos registros de medicamentos genéricos e similares, a
população brasileira ainda acaba tendo acesso a medicamentos de baixa qualidade.