O fim da década de 1990 foi marcado pela ascensão de governos “progressistas” em diversos
países da América do Sul e pelas críticas ao modelo neoliberal. Esse posicionamento
influenciou não só as políticas domésticas desses Estados, como a relação entre eles,
principalmente no que diz respeito ao regionalismo sul-americano, que rompeu, pelo menos
parcialmente, com os modelos fundamentados no neoliberalismo e na criação de uma área de
livre comércio. Iniciou-se, portanto, uma nova onda de regionalismos alicerçados no paradigma
pós-liberal, resultando na criação de organismos como a União de Nações Sul-Americanas.
Durante os anos de 2008 e 2019, a Unasul atuou como uma organização intergovernamental
regional na cooperação entre Estados da América do Sul em temas para além do viés
econômico. Tal modelo oferecia uma alternativa para a ideia de integração regional já
consolidada na região, estabelecendo espaços políticos alternativos para a formulação de
políticas e práticas regionais. Com a criação do Conselho de Saúde Sul-Americano, a Unasul
institucionalizou a sua atuação na área da saúde como uma área de cooperação e reconheceu a
mesma como tema de diplomacia e política externa. Foi instituída uma relação de cooperação
entre os países do Sul Global, especialmente dentre aqueles que faziam parte da Unasul. A
presente pesquisa tem como objetivo analisar as atividades realizadas pela Unasul-Saúde com
a finalidade de responder às perguntas de pesquisa: O que diferencia a Unasul-Saúde das
anteriores experiências de cooperação em saúde a nível regional e qual é seu legado? Como
ocorreram as atuações do Conselho de Saúde Sul-americano e quais foram os seus principais
avanços e limitações? Para tal, foi feita uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório,
descritivo e explicativo que utilizou as técnicas de análise documental e entrevistas
semiestruturadas com informantes-chave que participaram de tal processo e/ou são especialistas
no tema. Conclui-se, portanto, que devido à criação da Unasul com base na concepção de
regionalismo pós-liberal, o Conselho de Saúde Sul-Americano adotou um modelo de
cooperação voltada para a relação Sul-Sul, visando criar uma diplomacia da saúde no âmbito
regional a fim de reduzir as assimetrias por meio do desenvolvimento, deixando como legado
o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS) que, apesar de desativado, não foi
extinto e toda uma experiência de cooperação sul-sul, através da formação de uma agenda
regional para a saúde e de diplomacia, devido à atuação conjunta no cenário internacional. A
Unasul-Saúde atuava, portanto, através do estabelecimento de uma agenda regional comum,
com base nos eixos estratégicos determinados pelo Plano Quinquenal (2010-2015) e conseguiu
avançar o tema da cooperação em saúde através da criação de um instituto próprio. No entanto,
o mesmo apresentou muitas limitações, como a falta da participação efetiva da sociedade civil,
a falta de financiamento e oscilação do nível de participação dos Estados-parte, fatores que
precisam ser superados em experiências futuras.