Esta tese investiga as concepções de Guerra Fria (1947-1989) e suas representações nas histórias em quadrinhos mainstream norte-americanas durante o período. A elaboração da narrativa presente nestes artefatos culturais é um dos pontos principais a serem abordados nesta investigação. Após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a derrota do nazifascismo na Europa, ocorreu a ascensão das duas superpotências político-militares vitoriosas no confronto, Estados Unidos da América, líder do bloco capitalista e; a União Soviética, do socialista. Também teve início a construção, por parte da mídia e da política estadunidenses, de um novo “inimigo total”: o “comunismo” ou “ameaça vermelha”. Estava inaugurada a Guerra Fria. Neste cenário de bipolaridade geopolítica, analisaremos três personagens da editora Marvel Comics: o herói da Segunda Guerra Capitão América, que ressurge na década de 1950, durante o macarthismo ou Caça às Bruxas; Homem de Ferro e Quarteto Fantástico, também importantes para a propagação da ideologia anticomunista, sobretudo, durante as corridas armamentista e espacial dos anos 1960. A política do presidente americano Ronald Reagan durante os anos 1980, por sua vez, será observada nas páginas das graphic novels da DC Comics Batman - O Cavaleiro das Trevas e Watchmen. Procederemos com a análise não só dos discursos empregados nestas narrativas, como também de fragmentos imagéticos presentes nestas obras. Entendemos que a abordagem de elementos não-verbais como cores, sombras e de postura destes personagens é tão importante quanto a análise verbal, escrita, contida nestas HQs. Não obstante, o conceito substantivo Guerra Fria será abordado por meio da controvérsia presente na historiografia contemporânea. A propaganda anticomunista é de suma importância para fins desta investigação, uma vez que se trata uma interpretação historiográfica. As HQs não são inocentes. Elas atendem a interesses e conjunturas políticas. Desde a cor dos uniformes dos super-heróis até o discurso de superioridade, estes artefatos culturais serão discutidos não só do ponto de vista narrativo e imagético, como também mediante uma perspectiva historiográfica.