As realizações educacionais no Brasil, historicamente, acompanharam o processo de consolidação da ordem capitalista, refletindo suas mudanças e contradições. Nas últimas décadas, grupos conservadores trabalham cotidianamente na construção de consensos em torno de uma normatização autoritária da educação. Na prática, as pautas e proposições do Movimento Escola Sem Partido (MESP), são difundidos como necessários e fundamentais para a organização da atual educação brasileira, em combate à “doutrinação ideológica”, à "manipulação ideológica" e à “ideologia de gênero”. Ao propor a organização de uma vontade coletiva, divulgando suas concepções ideológicas como interesses comuns de todos os brasileiros, o MESP assume perspectivas fascistizantes que resultam na negação dos avanços democráticos. Através de discursos aparentemente morais, suas ações são parte de uma série de medidas que se articulam ao projeto ultraliberal de economia, atacam os direitos das classes subalternas do corpo social ao militarem pela redução do Estado e pelo fim de suas responsabilidades sociais, reflete os interesses de disputa por hegemonia de frações de classe dominantes na dinâmica da luta de classes e visa, através dos movimentos de contenção e imposição, frear os processos de democratização da educação, da secularização da cultura e de laicidade do Estado. Nesta tese, na qual objetiva-se analisar historicamente o MESP, busca-se localizar o papel que cumpre o aparelho privado de hegemonia no interior da frente liberalultraconservadora no Brasil e suas relações com outros aparelhos privados de hegemonia. Metodologicamente, a partir da mineração de dados do site do MESP, definido como “locus articulador” do Movimento, extraímos fontes passíveis de revelar as relações estabelecidas entre MESP e outros aparelhos privados de hegemonia. Discorreremos, através dos capítulos da tese, o desenvolvimento do MESP de suas origens ainda no ano de 2004 até os dias atuais, evidenciando sua liderança nas ações da frente liberal-ultraconservadora em defesa da existência de “ideologia de gênero”, do homeschooling e da militarização das escolas.