Os estudos acerca das dinâmicas paleoambientais que perduraram ao longo do Quaternário são
importantes, pois fornecem informações que contribuem para a compreensão da evolução
vegetal e climática da natureza. A presente pesquisa busca identificar as alterações
vegetacionais e climáticas ocorridas durante o final do Pleistoceno Superior e Holoceno nos
municípios de Santa Fé e Jardim Alegre, estado do Paraná, sul do Brasil. Como objeto de
estudo, foram escolhidos dois perfis de solos situados sob remanescentes florestais: um no
município de Santa Fé, denominado de perfil de solo P1 e outro em Jardim Alegre, referido
como perfil de solo P2. Para alcançar os objetivos propostos, os perfis de solos foram
caracterizados em seus atributos macromorfológicos, texturais e químicos (pH e matéria
orgânica). Também foram realizadas caracterizações da vegetação em cada remanescente
florestal, o que incluiram a florística, fitogeografia e parâmetros fitossociológicos.
Sequencialmente, realizou-se análises isotópicas dos carbonos estáveis para a obtenção da
composição isotópica (δ
13C) e da datação absoluta pelo 14C, além da extração da assembleia
dos fitólitos e cálculo dos índices fitolíticos. Os resultados indicaram que os perfis de solos
possuem atributos macromorfológicos e físico-químicos distintos, quando comparados entre si.
Portanto, devido a homogeneidade macromorfológica (transição entre os horizontes, cor,
estrutura, consistência, porosidade e cerosidade) do perfil de solo P1 e sua textura
predominantemente composta por areias, o que implicou em caracterizá-lo como Latossolo
vermelho textura textura média. Os valores de COT variaram entre 3,12 e 12,47 g/dm-3
e o pH
apresentou-se fortemente ácido. Por outro lado, o perfil de solo P2 possui textura composta em
sua maioria por argilas e novamente, devido a homogeneidade de seus atributos ao longo do
perfil, foi conferido como Latossolo vermelho textura muito argilosa. Os valores de COT foram
superiores se comparado com o perfil de solo P1 (entre 4,68 e 26,49 g/dm-3
). O pH também foi
caracterizado como fortemente ácido. Quanto a vegetação, o remanescente florestal do perfil
de solo P1 foi considerado como fragmento da Floresta Estacional Semidecidual, enquanto que
o remanescente florestal do perfil de solo P2 foi entendido como área de transição fitogeográfica
entre Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Mista. As idades absolutas e os
proxies paleoambientais permitiram as seguintes interpretações: no perfil de solo P1 (Santa Fé),
a vegetação arbórea esteve presente desde pelo menos 7.749 anos cal. AP, sugerindo que não
houveram alterações vegetacionais e climáticas desde o Holoceno Médio até o Holoceno
superior (atualmente) na área. Por outro lado, em Jardim Alegre, no perfil de solo P2, foram
identificadas duas fases ambientais: a FASE I possui idade de 12.368 anos cal. AP (Pleistoceno
Superior) na base do perfil de solo (250 cm de profundidade), com a presença de vegetação
mais aberta e predominância de plantas de ciclo fotossintético C4, vindo a indicar possivelmente
condições ambientais mais secas. No limite superior desta fase, foi encontrada idade de 5.345
anos cal. AP (Holoceno Médio), marcada pela mistura de vegetação (plantas C3 e C4). Este
período pode ser considerado como de transição entre condições mais secas, passando para
condições mais úmidas, isso porque na FASE II (idade mais recente que 5.345 anos cal. AP),
foi observada predominantemente a ocorrência de plantas C3, sugerindo condições mais
úmidas, semelhantes às atuais.