A presença judaica na cidade de Curitiba pode ser percebida desde o ano de 1889 quando as primeiras famílias chegaram no Paraná; sua origem caracteristicamente urbana e com referências múltiplas no que diz respeito à identidade tornam esta uma comunidade singular quando comparada a outras que chegaram na cidade desde a sua emancipação política do estado de São Paulo, em 1853. Sabendo que os judeus são sujeitos ativos social, cultural, política, economicamente na cidade, esta tese doutoral buscou compreender como a instituição de referência denominada de Kehilá implica na territorialidade dos judeus de Curitiba; apreendeu-se que esta forma de organização concentrada em um único recorte espacial impõe alguns limitadores para a vivência e práticas judaicas na cidade, o que resulta em certa disputa de forças entre os membros que compõe o grupo. Além disso, este entrave no que diz respeito ao “ser judeu” e praticar de formas diversas o judaísmo corroboram para que existam percepções distintas em relação ao território judaico local e a sua efetiva função de representatividade, o que resulta em uma identificação parcial àquilo que é feito em nome do coletivo. Para entender tais dinâmicas internas e a relação delas com o contexto curitibano, este estudo seguiu técnicas de pesquisa que dizem respeito à revisão bibliográfica e documental, somada à observação orientada na Kehilá e realização de entrevistas tanto com sujeitos ordinários do grupo, quanto com os representantes das instituições judaicas. Posterior à coleta dos dados, fez-se um tratamento analítico baseado no emparelhamento teórico-prático, ou seja, comparou-se as teorias sobre migração, identidade e formação do território com a realidade do grupo judaico, buscando entender como estes conflitos podem afetar a manutenção das instituições judaicas da capital do estado, bem como quais implicações isto gera para o fortalecimento identitário coletivo. Concluiu-se que os judeus possuem uma representatividade bastante sólida no que diz respeito à sociedade local, pois há reconhecimento da sua importância para a transformação urbana de Curitiba, bem como plena aceitação de suas presenças no meio curitibano, pois são prósperos economicamente, influentes social e politicamente, além disso colaboraram e seguem colaborando para o desenvolvimento urbano da capital. Contudo, os principais conflitos que podem desestabilizar a comunidade acontecem para dentro dos muros da Kehilá, ou seja, as divergências sobre o ser judeu, as práticas judaicas e as instituições representativas ganham destaque entre aqueles que, em princípio, compartilhariam de interesses e ideais comuns. Isto faz com que haja uma identificação parcial, instável e heterogênea do território judaico historicamente construído e isto acontece ora em razão da forma de organização da Comunidade, ora pelos sujeitos que são eleitos para a condução das instituições que falam em nome dos judeus. Dito isto, entende-se ser necessária uma reflexão coletiva acerca destas dinâmicas, pois todas elas influenciam para a manutenção do poder dos judeus sobre Curitiba, assim como para o fortalecimento do grupo na capital estadual.