A presente tese constitui-se como um estudo historiográfico da ficção literária de horror no
Brasil, tendo, entre seus propósitos, a investigação da genealogia e das singularidades dessa
produção – confia-se leitura a narrativas dos séculos XIX e XX, e primeiros decênios do
XXI. Para tanto, o trabalho sustenta-se em três capítulos: no primeiro, verificam-se as origens
e a consolidação do gênero horror, aqui contemplado à luz dos estudos de Noël Carroll e
Xavier Aldana Reyes, entre outros, que elegem o efeito estético como determinante para tal
expressão ficcional. Avultam, nesta parte da tese, acepções que objetivam diferenciar a
manifestação do horror em relação ao gótico e ao fantástico, suas matrizes literárias, bem
como a conceituação de um imaginário – de acordo com pressupostos de Michel Maffesoli –
do horror, a preceder a própria conformação do gênero, com vistas a enfrentar anacronismos
que comumente caracterizam a recepção de narrativas assustadoras. Também no primeiro
capítulo, destaca-se o papel da estética da recepção, conforme estabelecida por Jauss e Iser,
nos estudos relacionados à escrituração do horror. No segundo capítulo, traça-se um percurso
da literatura de horror no Brasil com a abordagem de 17 narrativas breves. O ponto inicial é
Noite na taverna (1855), que nesta tese antecede as prosas correspondentes a cada uma das
14 décadas que separam a obra de Álvares de Azevedo do século XXI. Em todo o percurso,
mantém-se em vista a vinculação dessas narrativas ora ao imaginário do horror no Brasil, ora
ao gênero de fato, conforme proposto no primeiro capítulo. Também se busca salientar, aqui,
as ressonâncias de certas obras na composição do horror no país do século XXI – produção
essa que entra em foco no terceiro e último capítulo, com as análises de três contos: “Casa de
fazenda” (2012), de Márcio Benjamin, “A idade da revelação” (2018), de João Paulo Parisio,
e “Um invasor” (2020), de Cláudia Lemes. Por fim, soma-se a essas leituras um breve
panorama contextual da literatura de horror brasileira nas duas primeiras décadas deste
século.