Em seu percurso histórico, a sociedade humana confrontou-se com as especificidades e as vicissitudes dos regimes de poder, sendo o homem ele mesmo e em cada época, produto e produtor, criatura e criador das estratégias de poder na conduta e governo de si e do outro. O pai, o soberano e o Estado já encarnaram o lugar do poder e todos eles, por meio de estratégias e tecnologias próprias, atuaram sobre a vida, para otimizá-la ou mesmo para tirá-la. As tecnologias de poder renovam-se no tempo e passam de materiais a imateriais, incidindo muito mais sobre as mentes do que sobre os corpos físicos. Na sociedade disciplinar atuaram na docilização, utilizabilidade e majoração das aptidões do corpo, servindo aos propósitos do capitalismo e à manutenção dos sistemas produtivos industriais. Nossa sociedade contemporânea já não é a disciplinar e, por essa razão, deixou de ser marcada pelos signos e pesos das instituições de confinamento disciplinar do passado e de suas estratégias peculiares. O cenário do presente, calcado num forte apelo à sustentabilidade ambiental, tem produzido biopoder e biopolíticas que se amparam em discursos e apropriações desse polêmico conceito da sustentabilidade para produzir dispositivos e estratégias que, em última instância, conduzem à gestão da vida e ao governo de si e do outro. Disso resultam o mal-estar dos tempos da sustentabilidade, a precificação da vida, categorias de indivíduo como o consumidor consciente e o stakeholder, considerados pontos de estofo e cruzamento de verdade e poder. Como objetivo geral da pesquisa, investigamos os processos de engendramento das biopolíticas atuais a partir dos discursos da sustentabilidade ambiental, contribuindo para o conhecimento da atuação dessas biopolíticas e de seus efeitos sobre a gestão da vida. A metodologia concentrou-se na análise das condições de produção do discurso da sustentabilidade ambiental com base no corpus selecionado. A referência teórica apoiou-se fundamentalmente em Michel Foucault embora outros autores compareçam para compor os argumentos teóricos. O corpus da pesquisa concentrou produções midiáticas de jornais, revistas, periódicos nacionais e internacionais, publicações de governos, da ONU e de outras instituições, relatórios de sustentabilidade de empresa e ações comunicacionais veiculadas nos media impressos e na internet. Como resultado de nossa tese concluímos que o discurso da sustentabilidade ambiental produz condutas, padrões de comportamento coletivos e individuais que, por um lado, regulam e conduzem a vida presente e, por outro, governam, por antecipação, a vida futura, promovendo, assim, a administração do futuro no presente