Nesta dissertação realizamos um estudo lexical dos Marcadores Culturais presentes no corpus paralelo constituído pelo romance Gabriela, cravo e canela (2006 [1958]), de Jorge Amado, com sua tradução para a língua inglesa, Gabriela, clove and cinnamon (1988 [1962]), realizada por James L. Taylor e William Grossman, a fim de verificar como ocorreu a passagem da cultura, lexicalmente marcada, do original à tradução. Para tanto, os marcadores culturais foram cotejados com o auxílio do software Wordsmith Tools 7.0, especialmente as ferramentas Wordlist e Concord. A pesquisa tem caráter interdisciplinar e apoia-se nos pressupostos teórico-metodológicos dos estudos do léxico com Biderman (1998), Barbosa (2001) e Oliveira e Isquerdo (2008); das Modalidades de Tradução com Aubert (1991; 2006) e Widman e Zavaglia (2017); dos Marcadores Culturais com Aubert (2003; 2006); dos Domínios Culturais com Aubert (1998; 2006) e Martins e Camargo (2008); das estratégias tradutórias de estrangeirização e domesticação com Venuti (1992; 1995) e Berman (2007); da cultura linguística com as contribuições de Matoré (1953), Silva (2000), Silva (2012) e Santos (2013); da representação cultural por Chartier (1991), Gumbrecht (2003) e Barros (2005); da Linguística de corpus com Berber Sardinha (2000; 2004; 2009); e da Ficha Lexicográfica proposta por Nascimento e Barreiros (2018). A pesquisa desenvolvida fez um levantamento de 104 Marcadores Culturais apresentados e classificados a partir do domínio de cultura, modalidade de tradução e estratégia de domesticação ou estrangeirização, organizados em fichas lexicográficas. Os Marcadores Culturais apresentados evidenciaram, em primeiro plano, as características linguísticas regionais apresentadas no romance de Jorge Amado, tornando a escrita romanesca do autor via de exposição e preservação da cultura híbrida e mestiça que nos caracteriza como brasileiros/baianos. Já na análise da tradução, constatamos que a modalidade tradutória adaptação foi a mais usada no romance em sua versão à língua inglesa, principalmente em marcadores culturais que representam a cultura afro-brasileira. A partir disso, construímos um glossário bilíngue que contempla esse grupo lexical afrodescendente. Tal fato nos possibilita afirmar que Gabriela, clove and cinnamon (1988 [1962]) caracteriza-se como uma tradução domesticada, revelando que a tradução pode ser, também, um ato de manutenção da colonialidade. Com base nas análises e resultados obtidos, almejamos que esta dissertação possa contribuir para futuras análises de traduções e pesquisas nas áreas de estudos lexicais, da cultura e do léxico afro-brasileiro, para evidenciar o potencial, seja colonizador ou descolonizar, dessa prática intercultural que representa o fazer tradutório.