Essa dissertação analisa as medidas de distanciamento social adotadas pelos prefeitos dos
municípios do estado do Rio de Janeiro, em relação ao seu alinhamento com as preferências
ideológicas do presidente Jair Bolsonaro, durante a pandemia de COVID-19. As relações
federativas no Brasil pós constituição de 1988 se assentaram na coordenação do governo federal,
que possui ampla predominância na formulação das políticas, com a implementação
descentralizada à cargo dos estados e municípios. Entretanto, a eleição de Bolsonaro marcou uma
tentativa de ruptura desse modelo, com a retração do papel da União, gerando conflito federativo,
ao mesmo tempo que a pandemia foi marcada por uma paralisia inédita nas ações de coordenação
do governo federal. O objetivo deste trabalho é avaliar o impacto do projeto pessoal do presidente
na federação brasileira, na forma de um estudo de caso. Foram analisadas as medidas de
distanciamento social adotadas por seus prefeitos, através de seus decretos, em dois recortes
temporais, no começo da pandemia e no pico da segunda onda, em 2020 e 2021, respectivamente,
e classificadas em relação ao seu alinhamento com a preferência pessoal do presidente. O Rio de
Janeiro foi o único estado governado por dois governadores no período; o primeiro, opositor das
medidas do Presidente, e o segundo, seu aliado. A literatura aponta para uma atitude negacionista
do presidente, contrário a qualquer medida de distanciamento, que eram recomendadas do ponto
de vista técnico, e que, portanto, a escolha por medidas brandas se daria principalmente pelo
vínculo ideológico. Foi empregada metodologia quantitativa afim de explicar o comportamento
dos prefeitos dos municípios na ausência dessa coordenação, e que mostrou significância para as
variáveis da média da ideologia do partido do prefeito e da taxa de incidência da doença no
município para cada 1000 habitantes em relação ao alinhamento com o governo federal. Os testes
mostraram evidências que apontam duas hipóteses do estudo como verdadeiras: A relação
diretamente proporcional da ideologia do partido do prefeito, que conforme mais à direita
aumentava as chances de alinhamento com o presidente, e a taxa de incidência da doença sendo
inversamente proporcional ao alinhamento com o presidente, o que poderia significar que uma
menor pressão sobre o sistema de saúde aumentava o espaço para a atuação ideológica do seu
prefeito. Essa pesquisa espera ter contribuído para a expansão da análise da atuação a nível
municipal, uma vez que a maioria dos estudos se concentrou na atuação dos governadores
estaduais durante a crise, e que permita futuros estudos comparados para os outros municípios.