Atendimento clínico em consultório particular e trocas estabelecidas em grupo de supervisão, no contexto da pandemia de covid-19, fomentaram esta pesquisa. Verificou-se, em certos pacientes, sobretudo no início da pandemia: um grau de insegurança tal que, quando não disfuncionalizava, paralisava os sujeitos em suas rotinas. Cabe ressaltar, por não ter havido de imediato fármacos comprovadamente eficazes para fazer frente à patologia, restarem apenas meios não farmacológicos para se protegerem (distanciamento social, quarentena, isolamento, etiqueta respiratória, limpeza e desinfecção de ambientes, higienização das mãos, uso de máscaras faciais, aferição de temperatura). À insegurança circunstancial neste caso, o pesquisador associou a insegurança desenvolvimental, pois seu manejo clínico se pauta por uma abordagem que traz como uma de suas bases a teoria do apego. E esta teoria, no presente trabalho, estabeleceu diálogo com temas da área de cognição social (crenças e ajustamento, por exemplo), ressaltando-se os conceitos de “modelo representacional” e “funcional internos”. Trata-se de elementos orientadores para a leitura da realidade e funcionamento nela, advindos do internalizado a partir das relações, sobretudo com os primeiros cuidadores e, posteriormente, com outras figuras referenciais, que trazem certo potencial de reparação sobre as deficiências dos primeiros relacionamentos – dessa perspectiva se falará da figura do terapeuta. Nesta esteira, relações seguras ajudam a criar disposições para identificar fatores ambientais de segurança, do que emergiu a questão-problema: há relações entre aliança terapêutica e crenças quanto às medidas não farmacológicas de prevenção e controle da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2)? Com base em pesquisa quantitativa – amparada por levantamento de dados, recurso de instrumentos para promover uma análise estatística, descritiva e inferencial –, contando 338 respostas válidas dos participantes, verificou-se que a aliança terapêutica incide limitadamente sobre as crenças quanto às medidas não farmacológicas de prevenção e controle da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Sobre tais crenças, maior influência tem a aliança de trabalho, ainda assim considerada como fraca. Estes resultados demostraram: (1) não foi preciso o vínculo ser formado entre terapeuta e paciente para haver a incidência da ação do primeiro sobre o segundo, e, mesmo se já estivesse estabelecido esse vínculo, sua influência não seria contundente; (2) as pessoas não buscavam apoio psicológico para aprender ou ensaiar o uso das medidas protetivas de prevenção e controle da pandemia, embora isso não se excluísse. Bastava o profissional ser encontrado por seu cliente cumprindo os protocolos sanitários e colocando-os como condição sine-qua-non para o atendimento, deixando subentendida a importância destes, para que sua ação passasse a ser eficaz.