O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se caracteriza pela presença de déficit persistente na comunicação e interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse e atividade. Essas características podem contribuir para o isolamento social dessas pessoas, ou mesmo gerar dificuldades significativas na convivência e participação efetiva na sociedade. Entretanto, acredita-se que o Tratamento Multidisciplinar e o Treinamento em Habilidades Sociais (THS) podem proporcionar a aprendizagem de habilidades específicas, de modo a contribuir para sua inclusão social de maneira mais satisfatória e com maior chance de êxito. O objetivo dessa pesquisa foi identificar os resultados de uma intervenção multidisciplinar constituída do THS na perspectiva da Terapia Cognitivo Comportamental e manejo das condutas agressivas para o autismo, com os respectivos ganhos em habilidades sociais, de modo a favorecer uma melhor compreensão do impacto do tratamento no desenvolvimento dessas habilidades e sua eficácia. Foi uma pesquisa de natureza observacional analítica e de abordagem quantitativa e corte prospectiva de seis meses, compreendendo o período de agosto de 2021 a fevereiro de 2022, que teve como respondentes 20 pais de sujeitos com TEA sob assistência em duas instituições de tratamento multidisciplinar. Para a coleta de dados foram utilizadas a Escala de Responsividade Social (SRS-2), o Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS-BR), e a segunda parte do “Child Behavior Checklist for ages 6-18” (CBCL), aplicadas com os pais em situação de sala de espera, em dois momentos distintos: marco zero e após 6 meses de tratamento. A comparação dos dados pré e pós-intervenção foi obtida com base nos indicadores de apuração dos instrumentos e com correlação de Spearman entre as variáveis dos mesmos para compreender quais variáveis possivelmente estavam mais fortemente associadas e, assim, contribuir para o entendimento do TEA. Os resultados indicaram déficits significativos nas Habilidades Sociais e Problemas de Comportamento em 90% dos participantes da pesquisa. Houve melhora dos resultados brutos das escalas em cerca 4 de 50% das crianças avaliadas e piora dos escores brutos em cerca de 45% da amostra. Observou-se uma variação nos níveis de gravidade do autismo, dividida entre leve e moderada. Os participantes da pesquisa com autismo leve apresentaram mais ganhos em habilidades sociais e melhora dos padrões comportamentais após intervenção quando comparado aos autistas de nível moderado. Acerca das correlações, se mostraram estatisticamente significativas com magnitudes moderada e forte entre Habilidades Sociais e Comportamento Agressivo, Percepção Social e Problemas de Comportamento, Padrões Restritos Repetitivos e Problemas de Comportamento Internalizantes, o que pode ser sugerido como indicadores a serem melhor contemplados em propostas de intervenções. Os resultados encontrados favoreceram uma melhor compreensão de como se dão os déficits em habilidades sociais e os problemas de comportamento em crianças autistas que estão em tratamento multidisciplinar, sinalizando as áreas de maiores dificuldades e que merecem maior investimento terapêutico de maneira a favorecer o desenvolvimento de intervenções mais eficazes para crianças autistas de níveis leve e moderado de gravidade.