Esta pesquisa nasce no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ensino (UERN/IFRN/UFERSA), na linha de pesquisa Ensino de Ciências Humanas e Sociais. Trata-se de um estudo sobre a Educação Moral e Cívica (EMC), disciplina e prática educativa introduzida em caráter de obrigatoriedade em todas as instituições de ensino brasileiras, no contexto da Ditadura Militar, a partir do Decreto-lei nº 869/1969. Na investigação foram analisados dois livros didáticos para a EMC da coleção “Meu livro de Brasil”, publicados em 1976 pela editora José Olympio e elaborados por Rachel de Queiroz e Nilda Bethlem. O objetivo foi compreender como estes livros didáticos de EMC contribuíram para o ensino de conteúdos alinhados aos pressupostos do governo militar. Para isso, discute-se o cenário histórico em que foi criada e implementada a disciplina EMC; analisa-se a legislação educacional que regulamentou sua obrigatoriedade no país e examinam-se os conteúdos dos livros didáticos, considerando suas determinações legais. Portanto, a abordagem é qualitativa e o percurso metodológico se embasa na análise dos principais documentos responsáveis pela disciplina EMC, a saber: o Decreto-lei nº 869/1969; o Decreto nº 68.065/1971, que regulamentou sua obrigatoriedade em todas as instituições do país; a Lei de nº 5.692 de 1971, que reformou o ensino e reafirmou a EMC no currículo das instituições; o Parecer de nº 94 de 1971 do Conselho Federal de Educação (CFE) e o guia de contribuição da Comissão Nacional de Moral e Civismo (CNMC). A análise dos livros didáticos teve como base as produções de Barros (2012) sobre fontes. Também fundamentaram a pesquisa os estudos de Munakata (2012), Lajolo (1996) e Côrrea (2000), que fomentam a discussão dos livros didáticos como fontes privilegiadas para compreender o processo de ensino e de disciplinas; Saviani (2008), Cunha (2007; 2014), Cunha e Góes (1985), Germano (2005), Cruz (1982), Filgueiras (2006), dentre outros, que contribuem com as discussões sobre o contexto da Ditadura Militar, as suas políticas educacionais e o protagonismo da disciplina EMC, e Foucault (1987; 2021), que colabora para a compreensão sobre o poder disciplinar. Considerando as questões levantadas e a análise das fontes, os livros da disciplina EMC “Meu livro de Brasil”, ao tratarem de conteúdos sobre a pátria e os seus símbolos, dos valores morais da família e da comunidade, da valorização do trabalho em prol do desenvolvimento da nação e do cumprimento de regras e normas de conduta, demonstram uma busca pela regulação dos valores morais, sociais e políticos dos sujeitos desde sua infância, vislumbrando uma formação de cidadãos pacíficos, ordeiros e obedientes.