A exposição de estereótipos femininos sob a perspectiva masculina tanto na literatura
quanto no cinema apresenta o corpo feminino enquanto fonte de anseios e desgostos.
Em oposição à heroína boa, frágil e pura, está a sexualidade, marcando a mulher má,
perversa e impura, um dos grandes símbolos da representatividade na literatura de
horror é encontrado na mulher fatal, um dos principais agentes do medo da ficção. O
presente trabalho investiga a adaptação fílmica Styria (2014) enquanto tradução do
gótico e do monstro feminino na novela Carmilla, a vampira de Karnstein (2018), de
Le Fanu, objetivando analisar a construção do gótico nas duas obras. As análises
mostram a construção dos aspectos góticos, em especial, o monstro gótico feminino,
na obra Carmilla e em sua adaptação fílmica Styria (2014). Primeiramente, traçamos
um panorama teórico com o intuito de embasar a análise das adaptações fílmicas
enquanto traduções, a partir de autores como Arrojo (2016), Rodrigues (2000), Ribeiro
(2017), Amorim (2005), Stam (2006; 2008) e Hutcheon (2013). Embasando a análise
do gótico e do monstro, utilizamos autores como Santos (2017), Klee (2008), França
(2017), Cohen (2000), entre outros. Buscamos ainda demonstrar o papel da mulher
enquanto sujeito social e do feminino, para tanto usamos respaldo de Beauvoir (2016),
hooks (2019), Davis (2018) entre outras. Fundamentamos questões ligadas ao
cinema, utilizamos teóricos da linguagem cinematográfica, como Martin (2005), além
de críticos que abordam a questão da adaptação de obras para o cinema. O filme
traduz a narrativa da vampira para o século XXI e dialoga com as questões de gênero
e empoderamento ligadas ao universo feminino. Nessa conjuntura, as análises
apontam que a vampira Carmilla surgiu e reapareceu para representar a mulher
transgressora, que além de ser construída como monstro, é punida nos desfechos das
narrativas, pois era e continua sendo necessário estabelecer a ordem social, com
base na divisão de gêneros.