Esta tese teve como objetivo identificar os diferentes territórios e recursos sociais que possibilitaram que mulheres nascidas entre as décadas de 1930 e 1960 construíssem suas identidades lésbicas, identificassem outras lésbicas e estabelecessem relações de forma relativamente segura. A tese se organiza a partir de três distintos conjuntos: as jovens que integraram um conhecido grupo na cena homossexual belo-horizontina, o Vila Sésamo, e que na velhice se mantiveram unidas em uma Confraria de lésbicas; as pioneiras proprietárias dos primeiros bares e boates destinados ao público lésbico na cidade de Belo Horizonte e algumas frequentadoras desses espaços. A partir de entrevistas em profundidade, foi possível traçar as trajetórias de vida de 21 mulheres com mais de sessenta anos de idade, universo sobre o qual pouco foi pesquisado. As análises foram feitas tendo como pressupostos teóricos o pós-estruturalismo feminista e os estudos decoloniais. A partir dessas análises, é possível afirmar que, de modo geral, as mulheres entrevistadas optaram por manter sua orientação sexual sob o manto da invisibilidade. Nesse sentido, poucos são os espaços pelos quais elas transitaram e ainda transitam sem filtros, mostrando dificuldade e fazendo críticas quanto à exposição pública de afeto entre casais de lésbicas; entre algumas, o sentimento é de aversão àquelas que se expõem e esse sentimento pode ser vinculado aos processos de estigmatização aos quais foram submetidas. Aquelas que conseguiram manter e nutrir vínculos interpessoais construíram, ao longo dos anos, relações de amizade e solidariedade que se desdobraram em uma rede de apoio na velhice. Para outras, a ausência de tais vínculos foi pelo menos em parte, responsável por trajetórias de vidas mais tortuosas. Ao serem analisadas as histórias de vida dessas 21 lésbicas, ficaram evidentes a invisibilidade da homossexualidade feminina e a potência das relações de amizade que muitas foram capazes de construir.