As praças são elementos comuns às cidades, independentemente do porte. No entanto os estudos contemporâneos que tratam da dinâmica dos espaços públicos apontam certo distanciamento das pessoas em relação a esses logradouros, ou seja, a função social das praças teria pouca expressividade. Isso pode ser justificado principalmente pelo surgimento de outras formas de lazer e espaços de sociabilização, tais como shoppings centers, e/ou pela falta de
políticas públicas continuadas para manutenção/conservação desses logradouros. Todavia a maior parte destes trabalhos têm como referência os centros urbanos de médio e grande portes, não representando a condição peculiar das pequenas cidades. Assim, a praça tornou-se objeto de estudo na presente tese em uma parcela diferente do urbano, a das cidades de pequeno porte. A maioria dos municípios brasileiros, 70,4%, configura-se como pequenos, no
Paraná essa proporção é ainda maior, pois 78,2% têm menos de 20.000 habitantes (IBGE, 2010). Por meio desses dados é possível notar o papel representativo e significativo dessas cidades no contexto nacional e também no Estado do Paraná. Embora a pesquisa científica voltada a essa parcela do urbano tem sido tratada de forma mais contundente nos últimos anos, seu cotidiano é ainda pouco explorado e conhecido pela ciência. Esta condição suscita interrogativas quanto à sua dinâmica e práticas socioespaciais desenvolvidas. Assim, a presente tese tem como objetivo apresentar os usos, funções e importância das praças nas pequenas cidades, ou seja, as formas de apropriação, as relações estabelecidas, entre os cidadãos e esse espaço público. Foram assumidas duas hipóteses: a) estes logradouros caracterizam-se como um lugar de encontro e sociabilização, contrariando o que ocorre nos médios e grandes centros; b) e mesmo em formas simplificadas os shoppings não se fazem presentes - existem também espaços alternativos de lazer que concorrem com as praças nessas localidades. O estudo empírico tem como referência Peabiru, Araruna e Engenheiro Beltrão, três cidades da Mesorregião Centro-Ocidental do Estado do Paraná, mais especificamente da Microrregião de Campo Mourão. Essas cidades apresentam características similares entre si em relação a sua origem, área territorial, época de emancipação, evolução e tamanho populacional. O ordenamento da pesquisa se deu a partir de revisão teórica sobre a temática em questão; caracterização histórico-social das três cidades envolvidas na análise; diagnóstico de 20 praças objetos da investigação - a partir de observações, levantamentos, entrevistas com pioneiros, conversas informais com citadinos, usuários das praças e análise de documentos oficiais das cidades -; avaliação quantitativa e qualitativa de equipamentos, mobiliários e vegetação presentes nesses logradouros; análise dos referenciais toponímicos; e resultados de uma enquete de opinião realizada com 673 munícipes, sendo respectivamente 270 na cidade de Peabiru, 211 em Araruna e 192 em Engenheiro Beltrão. Como resultado da pesquisa conduzida, pode-se afirmar que as praças não são prioridade da gestão pública tendo em vista a precariedade em que muitas se encontram, fato que se agrava nos logradouros mais afastados da área central. A condição da vegetação também retrata a falta de planejamento na criação e gestão desses espaços, pois verificou-se ser comum a presença de espécies exótica
invasoras, com potencial de toxicidade, além de situações que não atendem às normas de segurança e acessibilidade. Todavia, mesmo em condições não ideais de apropriação as praças caracterizam-se como locais de encontro e sociabilização, uma vez que foi essa a principal motivação apresentada pelos participantes da enquete quando questionados sobre os motivos que os levam a frequentar as praças da urbe, confirmando a primeira hipótese estabelecida. Essa constatação é também reforçada quando se analisam outros fatores tais como: o que os citadinos mais gostam na praça que frequentam, uma vez que as pessoas/a possibilidade do encontro estão entre as respostas mais citadas; o período do dia em que costumam ir à praça,
sendo o noturno o mais mencionado, ou seja, há a vinculação da praça enquanto espaço de lazer, destino nos momentos de folga, e não apenas um vazio na malha urbana; e o tempo que o usuário fica no logradouro, respondido de 1 a 3 horas pela maior parte (49,3%) das pessoas entrevistadas, confirmando o caráter de permanência e não apenas de passagem da praça. Enquanto locus, a praça central, característica marcante da identidade urbana de pequenas
cidades, é ponto de referência para o cidadão, por ela transita, desfila o cotidiano da urbe, palco de tradicionais eventos da cidade. É no seu entorno que se localiza o principal comércio, os serviços mais importantes e os principais prédios públicos. A segunda hipótese, que prevê a existência de espaços alternativos de lazer que concorrem com as praças nas cidades de pequeno porte, também foi validada, pois a praça ocupa a quarta posição dos lugares que os citadinos costumam frequentar nos seus momentos de folga na cidade de Engenheiro Beltrão, e a quinta posição nas cidades de Peabiru e Araruna, estando na sua frente locais como: casa de parentes e amigos, lanchonete/pizzaria, barzinhos, sorveteria e zona rural. Nessa pesquisa
constatou-se a importância das praças nas pequenas cidades como espaço de sociabilização e, portanto estas devem ser geridas como tal, e não simplesmente serem adotadas medidas generalistas e seriadas, copiadas de centros maiores, pois a realidade e as formas de uso, apropriação e valor atribuído pelo citadino a esses espaços são distintas. Infere-se que o afluxo da população às praças possa ser maximizado a partir de iniciativas de gestão que entendam e atendam as particularidades e dinâmica desse contexto urbano.