Pacientes acometidos pelo diabetes mellitus tipo 2
(DM2) inicialmente produzem insulina, mas não conseguem utilizá-la
adequadamente. A hiperglicemia persistente, peculiaridade atribuída ao
descontrole da doença, pode causar complicações. Nesse sentido, indica-se
medidas não farmacológicas e farmacológicas quando os valores glicêmicos estão
acima dos requeridos para o diagnóstico e o controle da doença. Medicamentos
padronizados na Relação Municipal de Medicamentos Essenciais são
disponibilizados para tratar a doença. Todavia, alguns pacientes são submetidos a
tratamentos com medicamentos não padronizados, o que pode comprometer o
acesso a essas tecnologias, aumentar as judicializações em saúde e prejudicar o
êxito das políticas públicas de saúde. Isso posto, o objetivo do estudo é conhecer o
itinerário terapêutico de pessoas com DM2 que utilizam medicamentos não
padronizados e avaliar os desfechos da farmacoterapia. Trata-se de um estudo
dividido em duas etapas. Na etapa A, do tipo transversal, os participantes estavam
em uso de medicamentos não padronizados para tratar o DM2. Os dados foram
coletados mediante contato telefônico e instrumento de coleta de dados validado.
As informações foram analisadas por estatística descritiva. Na etapa B, classificada
como um estudo de coorte, foram convidados pacientes diagnosticados com DM2
para comporem as seguintes coortes: pacientes expostos a medicamentos
padronizados e pacientes expostos a medicamentos não padronizados para o
controle da doença. As coortes foram pareadas por conveniência. A coleta de
dados ocorreu a cada trimestre durante seis meses. Após a coleta de dados, foram
realizados testes estatísticos para avaliar a Razão de Chances dos eventos de
interesse da pesquisa como controle metabólico, complicações da doença e
adesão a farmacoterapia. Para a coleta de dados, um instrumento de coleta foi
elaborado e validado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Alfenas. Entre as pessoas convidadas para participar da etapa A, 64 aceitaram. A média da idade foi de 64 anos (DP=10,9), a maioria
(57,8%) mulheres, aposentados (29,7%), com ensino fundamental incompleto
(46,8%). Em média, tinham diagnóstico de DM2 há 11,0 anos (DP=10,0). Foi
observado que 40,6% dos indivíduos que tiveram seus medicamentos
padronizados substituídos por não padronizados interromperam o tratamento. Na
etapa B, 81 pacientes aceitaram participar, 50,7% eram participantes expostos aos
medicamentos não padronizados e 49,3% eram participantes expostos aos
medicamentos padronizados para tratar DM2. De acordo com as análises do
Itinerário Terapêutico medicamentoso das pessoas com DM2, sugere-se que, o
desfecho do tratamento medicamentoso da doença com opções não padronizadas
foi insuficiente (p<0,01) para manter os níveis de glicemia conforme as metas e
evitar complicações da doença. Ademais, observou-se que a exposição ao
medicamento não padronizado acarretou em chances aumentadas de
comprometimento da efetividade e da adesão ao tratamento medicamentoso.