A presente pesquisa tem o objetivo de analisar a vertente ficcional do fantástico em
três contos de Tutaméia: terceiras estórias (1967), de João Guimarães Rosa. Os
contos selecionados para análise são, respectivamente, “Presepe”, “Droenha” e
“Umas formas”. A problemática deste trabalho se baseia no estudo sobre as
realidades insólitas e a manifestação do duplo e do estranho como traços do
fantástico em sua produção literária. Desse modo, o duplo e o estranho apresentam-
se como temas privilegiados na ficção rosiana e, principalmente, em Tutaméia.
Ademais, é importante levar em conta que os estudos sobre Guimarães Rosa
prestigiam aspectos regionais e culturais, em detrimento do fantástico e seus
desdobramentos, como o duplo e o efeito de estranhamento, principalmente, em
Tutámeia. As escassas publicações sobre o assunto denotam que a vertente
fantástica na ficção rosiana não recebeu o reconhecimento merecido. Nesse sentido,
defendemos a necessidade de uma reflexão crítica sobre os aspectos irreais que
causam o sentimento de estranheza e de inquietação na narrativa estudada. Dentre
os trabalhos que integram a fortuna crítica rosiana, destacamos a pesquisa de
Covizzi (1978) como uma importante referência. Entretanto, é relevante frisar que
esse estudo não inclui os contos de Tutaméia. Verifica-se, portanto, uma lacuna
sobre o assunto em sua fortuna crítica. Para tanto, elegemos como referencial
teórico norteador os postulados teóricos sobre o fantástico formulados por Todorov
(1981); Castex (1951); Ceserani (2006); Roas (2014), Furtado (1980) Bessière
(1974), Cortázar (2006). Outro importante conceito na leitura pretendida é a
concepção de estranho, tal como concebe Freud (1969). Acrescentam-se, ainda as
perspectivas de Rank (2014), Rosset (2008) e Bravo (1988) sobre o duplo,
fundamentais para compreender o desdobramento do eu como manifestação do
irreal na estrutura da narrativa. Em nossas hipóteses, os elementos irreais expressos
na estrutura narrativa rosiana aproximam-se da conceituação de Calvino (2004),
sobretudo as concepções de “fantástico visionário” e “fantástico cotidiano” que o
escritor emprega em sua teorização sobre o assunto.