Nos períodos de crise na sociedade, as mulheres são as primeiras a retrocederem
em seus direitos. Nos contextos sociais dos países africanos de Língua Portuguesa,
a literatura nos faz imaginar como era a vida e quais as estratégias de resistência
das mulheres para sobreviverem, para se expressarem, para contribuir com a luta
pela libertação de seu país e com a manutenção da vida nas suas comunidades.
Essas são questões relevantes para esta pesquisa que se propõe a compreender e
refletir de que modo à literatura representa a vida e a resistência das mulheres nos
países africanos de Língua Portuguesa. O corpus é formado pelas narrativas curtas
“Quem manda aqui” (2013), de Paulina Chiziane, “Liberdade adiada” (2002), de Dina
Salústio, “Sunguila” (2005), de Filomena Embaló, “Apenas entre mulheres” (2009) de
Sónia Gomes e “A tristeza de Konóbia” (2018), de Olinda Beja. As escritoras são de
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe,
respectivamente, países africanos, que foram colonizados por Portugal. Nossos
estudos se fundamentam na relação entre a Teoria Pós-Colonial e a Crítica
Feminista a partir de conceitos bases como Hall (2005), Bhabha (2010), Said (1995),
Césaire (1978), Meneses (2019) para entendermos a colonização e o Pós-Colonial.
Quanto a perspectiva da crítica feminista, dialogamos, principalmente, com Spivak
(2010), Cobo (2014) e Bahri (2013). Além disso, priorizamos compreender os
contextos sociais dos países, os quais as escritoras e as narrativas estão inseridas,
a partir do olhar e da vivência de autores que registraram suas perspectivas nas
obras, como Cabaço (2009), Ferreira (1973), Mata (2018), Augel (2007) e Semedo
(2010). A metodologia utilizada para esta pesquisa é bibliográfica de cunho crítico-
analítico, desenvolvida através de abordagem qualitativa. É importante salientar que
nosso trabalho é, principalmente, sobre Literatura Africana de Língua Portuguesa.
As narrativas analisadas revelam que os processos violentos de colonização e as
lutas pela libertação afetam de forma diferente a vida das mulheres e que estas
procuram estratégias para, além de sobreviver, também garantir a manutenção da
vida nas famílias, nas comunidades, na preservação da tradição e da memória
coletiva.