Este trabalho analisa os poemas da escritora negra Júlia Suzarte, por meio de suas postagens no Facebook, no Instagram e nos escritos no livro No meu quintal, como prática discursiva de resistência, a partir da qual se pode fazer o diagnóstico do presente. Esta investigação tem, como objetivo geral, analisar o discurso da poeta negra e seus modos de subjetivação ao produzir literatura, atravessado pelo universo midiático, centralizando a discussão nos textos postados no em suas redes sociais, de 2015 a 2020, e também aqueles publicados no livro No meu quintal, em 2019. Temos, ainda, como objetivos específicos, descrever o acervo literário da poeta, seu modo de enunciar a si, caracterizando o processo de constituição da escrita de si e suas condições de emergência; identificando os enunciados, descrevendo seu funcionamento e as regularidades discursivas presentes nas produções literárias da mulher negra poeta. Questionamos qual o espaço ocupado pela poética dessa escritora, pensando a literatura como lugar de constituição dos sujeitos e levando em conta as experiências estéticas da mulher negra nordestina hoje, mobilizando o método arqueogenealógico, o qual aponta para uma complementaridade da arqueologia com a genealogia, conforme definidos por Foucault (2016, 2018b). A análise do corpus aconteceu em três momentos: 1) descrição de sete poemas retirados do livro publicado pela escritora, com atenção aos enunciados produzidos e às regularidades encontradas; 2) discussão de cinco postagens com fotos do Facebook e cinco do Instagram (além de outras quatorze postagens analisadas ao longo do texto), que foram selecionadas pelos temas mais frequentes e por elementos discursivos, com atenção aos corpos que aparecem, observando o cabelo, o modo de apresentar-se, as expressões do rosto, os espaços, as cores; 3) análise de dois vídeos publicados no Facebook, um de 2018, com forte abordagem política, e outro de 2020, com reflexões sobre aprendizagens oportunizadas pelo isolamento social, provocadas pela pandemia do coronavírus. Neles, além das regularidades discursivas, observamos as diferenças existentes, os espaços, a temática, a apresentação dos corpos. Como resultados, identificamos, nesse estudo, que o discurso dessa escritora ocupa um lugar de resistência a práticas disciplinares - o que permite a sua autoinserção no mundo, que tenta colocá-la em um lugar de invisibilidade, como sujeita subalterna que não pode falar. Outra questão a que chegamos é que a literatura aqui tratada é uma prática histórico-discursiva de constituição dessa sujeita, possibilitando fazer o diagnóstico da realidade (FOUCAULT, 2014b), a partir da escrita de si (FOUCAULT, 2017) e da escrevivência (EVARISTO, 2020a).