O mercúrio é um metal pesado que acarreta danos à saúde humana. A exposição mercurial se dá através de meios como a queima da amálgama e pelo consumo de peixes contaminados por mercúrio. As mulheres em idade fértil, grávidas e mulheres que estão amamentando fazem parte do grupo de vulnerabilidade e devem ser acompanhadas; a fim sobretudo de evitar os efeitos da exposição mercurial, que podem gerar um quadro clínico de: fraqueza muscular, infertilidade, desregulação hormonal, síndrome do ovário policístico. Além disso, os efeitos da exposição mercurial afetam o feto, no período intrauterino, contribuindo para atrasos e/ou danos ao sistema nervoso, malformações congênitas, e abortos. Na Amazônia brasileira, existe o interesse em investigar a exposição mercurial, dada às atividades antrópicas de mineração na região, assim como, a presença de peixes contaminados que agregam riscos à saúde da população, principalmente devido ao alto consumo de peixes por pessoas da região amazônica. Entendendo que na região do Baixo Tapajós existe uma população ambientalmente exposta e diante dos perigos que a exposição mercurial pode vir a ter em mulheres, esse estudo objetiva avaliar o perfil epidemiológico e clínico de mulheres ambientalmente expostas ao mercúrio na região do Baixo Tapajós, Pará. Trata-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo, que foi realizado com base nos dados coletados no período de 2015 a 2019. A amostra populacional do presente estudo é de 327 mulheres, residentes nas áreas urbana, ribeirinha e do planalto da região do Baixo Tapajós. Para os fins da pesquisa foram coletadas e analisadas as variáveis: sociais, demográficas, alimentares, antropométricas, clínicas e laboratoriais. Também foi feita a análise da concentração do mercúrio no sangue, considerando como “expostas” as mulheres com mais 10 μg/L de mercúrio. Foi feita a análise estatística descritiva e inferencial destas variáveis no software Statistical Package for Social. Com base na análise de dados proposta os resultados demonstraram que 73,4% (n=240) das mulheres apresentaram níveis de mercúrio acima de 10 μg/L, dessas 81,1% apresentaram escolaridade básica e desenvolviam atividades ocupacionais relacionadas a pesca (93,1%) e a agricultura (88,6%). Entre essas mulheres expostas 70,5% (n=155) estavam em idade fértil, no entanto, as mulheres com mais 50 anos foram as participantes com maior valor de média de mercúrio no sangue de 41,4±51,3 μg/L e mediana de 21,2 μg/L. Evidenciou-se que 87,3% (n=145), ou seja, mais da metade das mulheres, residiam nas áreas dos rios e estavam expostas a níveis altos de mercúrio. Sobre os sintomas foram mais frequentes os relacionados aos sistemas nervoso e muscular, chama a atenção que a frequência de sintomas foi três vezes maior entre as mulheres expostas a níveis altos de mercúrio. Na avaliação antropométrica evidenciou-se a predominância de 56,9% (n=124) de mulheres com sobrepeso/obesidade, dessas 79% (n=98) estavam com níveis de mercúrio acima de 10 μg/L, com valor médio de 46,6±59,6 μg/L. Com relação a pressão arterial, 49,3% (n=100) das mulheres apresentaram níveis de pressão arterial ≥140x90mmHg, dessas 82% (n=82) apresentaram valores de mercúrio acima de 10 μg/L. Ressalta-se que a proporção de mulheres com sobrepeso/obesidade foram mais de três vezes maior entre as mulheres com níveis altos de mercúrio, assim como, a pressão arterial alterada que foi 4,5 vezes mais frequente no subgrupo de mulheres expostas. Os resultados da presente pesquisa demonstram um perfil de alta exposição mercurial em mulheres em idade fértil, ainda retrata a forte influência de fatores ligados a vulnerabilidade social, isolamento geográfico e alto consumo de peixes para a exposição de mulheres ao mercúrio. Os resultados também apontam a presença de indícios dos efeitos negativos da exposição mercurial na saúde das mulheres, o que instiga o desenvolvimento de mais estudos voltados para dimensioná-los. Diante desse panorama de saúde precisam ser planejadas ações para a intervenção e controle da exposição mercurial da população na Amazônia, para tanto o que deve ser considerado é a complexa relação estabelecida entre a população e o meio ambiente. O perfil social e econômico dessa população segue a influência do campo, floresta e das águas, logo soluções que se proponham a coibir o consumo de peixes tem por tendência a serem impraticáveis, ainda mais por desconsiderarem a vulnerabilidade social dessa população. Para o êxito no controle e monitoramento do mercúrio, devem ser traçadas estratégias adequadas as especificidades do território e da população, para tanto, a participação e empoderamento popular sobre as questões envolvendo o mercúrio, saúde e meio ambiente são fundamentais para o êxito desse processo, sendo o primeiro passo o acesso à informação.