É crescente a busca por novos produtos naturais com propriedades antimicrobianas no combate às bactérias multirresistentes como Staphylococcus aureus, responsável por várias doenças, incluindo infecções dermatológicas. Algumas plantas utilizadas na medicina tradicional são candidatas na prospecção de bioativos antibióticos, com ênfase às espécies de ipês que apresentam diversificadas propriedades biológicas, devido sua composição química majoritária de naftoquinonas como lapachol. Com isso, aliado ao potencial medicinal de Handroanthus serratifolius (ipê amarelo) à necessidade de extração de compostos de novas fontes, este estudo teve o objetivo de obter e caracterizar extrato vegetal proveniente do reaproveitamento de resíduo madeireiro de H. serratifolius para desenvolver uma formulação semissólida com ação antibacteriana. Para isso, a serragem de H. serratifolius foi caracterizada e apresentou teor de umidade e cinzas totais dentro dos limites aceitáveis para garantir a qualidade da amostra e classificação de pó moderadamente grosso. Foram obtidos 3 extratos, aquoso a partir de decocção da amostra, hidroalcoólico da maceração em álcool 70% e etanólico de maceração em álcool etílico absoluto. Foram liofilizados para gerar extratos secos brutos, cuja caracterização fitoquímica demonstraram presença de quinonas, antraquinonas e esteroides, e somente o extrato aquoso revelou taninos. Além disso, à cromatografia de camada delgada foi verificada a existência de lapachol na composição química de todos os extratos. Posteriormente, esses foram submetidos ao teste antimicrobiano para detectar a concentração mínima inibitória (CMI) e concentração mínima bactericida (CMB) frente às bactérias patogênicas de pele: S. aureus, S. aureus MRSA, S. pyogenes, E. faecalis, E. coli e P. aeruginosa, nos quais somente bactérias gram-positivas se mostraram sensíveis, destacando-se o extrato aquoso com melhor desempenho bactericida ao maior número de cepas testadas, tendo S. pyogenes mais sensível com CMI de 0,156 mg/mL e CMB de 0,62 mg/mL. Portanto, 1% do extrato seco aquoso foi incorporado à formulação semissólida à base de manteiga de trocaryum murumuru, de pH de 5,8 compatível ao uso em peles e mucosas. A microscopia de luz polarizada da formulação revelou presença de cristais líquidos de fase hexagonal, podendo permitir a sustentação da liberação dos ativos por um maior intervalo de tempo. Além disso, a formulação se mostrou estável durante 90 dias, independente da temperatura de armazenamento, e manteve atividade antibacteriana contra bactérias sensíveis ao extrato aquoso. Ademais, comparações entre formulação com 1% de extrato e uma formulação com 0,5% de lapachol nas mesmas condições, demonstrou-se que ambas exibem ação antibacteriana satisfatória a S. aureus, cujo extrato é eficiente tão quão a substância isolada (p>0,05). Na previsão in silico de sensibilização da pele, dos componentes identificados na formulação, somente lapachol apresentou alerta de sensibilizador cutâneo a indivíduos suscetíveis, pelo método Bayesiano. Entretanto, não houve sinais de risco tóxico à pele na base de dados do Toxtree, assim, permitindo assegurar o uso tópico. Diante disso, este estudo contribuiu para evidenciar a proposta alternativa de formulação fitoterápica antibacteriana para infecções cutâneas, enfatizando a qualidade dos resíduos desprezados pelo setor madeireiro como uma potencial fonte de extração de compostos bioativos