Esta pesquisa busca discutir teoricamente formulações dos principais autores e autoras do
debate sobre imperialismo e da teoria marxista da dependência para o desenvolvimento de
uma categoria-chave no debate aqui proposto: a transferência de valor. Sendo uma categoria
ainda não formulada no contexto em que os autores passavam a elaborar sua possível base, o
trabalho leva em conta aspectos desse debate que surgiam de forma latente nas obras
abordadas, mas que à luz do olhar sobre o desenvolvimento do processo histórico poderão
servir de base para uma formulação com maior nível de sofisticação teórica.
Metodologicamente, trata-se de um trabalho que fará uma revisão bibliográfica de literatura
produzida por autores, já considerados clássicos, do campo teórico do marxismo que travaram
intensos debates acerca do processo de acumulação do capital, investigando desde seus
aspectos mais abstratos como também as particularidades de sua realização histórica em
formações econômico-sociais determinadas. No desenvolvimento desse debate mais amplo
sobre acumulação do capital, imperialismo e dependência, os autores/autoras perpassam por
uma série de debates que envolvem aspectos econômicos da produção capitalista, bem como
questões atravessadas por aspectos políticos, diplomáticos e militares. O debate sobre a
produtividade social do trabalho e a concorrência, atrelados à política colonial imperialista,
parece aqui contribuir de forma central para a regulação de um mercado mundial que
desenvolve-se a partir de suas próprias contradições, mas que também as amplifica em novos
níveis como forma de superá-las. Sob a vigência da lei do valor, desenvolvida ao longo dos
três livros d’O capital de Marx e aqui referenciada como central a tal debate, a desproporção
entre produção e apropriação de valor parece desenvolver-se em novos patamares no
momento histórico sob o qual convergem em direção a esse debate Rudolf Hilferding, Rosa
Luxemburgo, Nikolai Bukharin, Vladimir Lênin e Henryk Grossman. Já em um momento
histórico posterior, em que as contradições do processo de acumulação seguem acirrando-se
para manutenção de seu próprio processo de reprodução, as formulações de Ruy Mauro
Marini, Vânia Bambirra e Theotônio dos Santos dão maior nível de concretude ao debate. O
fazem ao levantarem elementos fundamentais que abarcam os esquemas de reprodução do
capital (já muito discutidos na tradição marxista desde o Livro II d’O capital) e as formas
históricas sob as quais se apresenta a integração subordinada latino-americana no mercado
mundial, as aparentes violações da lei do valor nesse processo e a descapitalização das
economias dependentes na esfera da circulação e da produção sob condições de domínio do
capital monopolista. A identificação dos mecanismos que determinam as condições sob as
quais se acirram as desproporções entre produção e apropriação do valor nos centros de
acumulação global e nas economias dependentes é fundamental para o avanço do
entendimento sobre o objeto de estudo. Esse refinamento teórico acerca das transferências de
valor, entre capitais espacialmente dispersos, porém conectados através do mercado mundial e
da concorrência intercapitalista, entendidas em sua historicidade, pode contribuir para
desvelar elementos que demonstrem se existem tais mecanismos fundamentais na reprodução
de relações de subordinação entre capitais localizados em determinadas formações
econômico-sociais, mas também como as mesmas condicionam as relações de produção e de
troca no capitalismo contemporâneo.