Esta tese de doutorado desenvolvida no campo das pesquisas qualitativas em Geografia, é fruto
de uma investigação-ação-participativa com e para o Quilombo Bom Sucesso, localizado no
município de Mata Roma, estado do Maranhão, Brasil. As comunidades tradicionais, em
especial os quilombos dos chapadões do leste maranhense, têm sofrido constante pressão por
parte do avanço do agronegócio, que não transforma só a paisagem dessa região, mas também
socialmente, nas alterações da reprodução de vida e na inversão de regras comuns
historicamente construídas. Nesse processo, Bom Sucesso, que tem no agroextrativismo o meio
de (re)produção nutricional de suas famílias, tem sido ameaçado. Nesse contexto, as principais
questões que problematizam a nossa pesquisa e nos norteiam são: como se organizam
politicamente em face das lutas de classe? qual percepção eles têm diante do avanço da fronteira
agrícola no seu território? Para orientar a leitura do fenômeno geográfico objeto de pesquisa,
elegemos os conceitos de território e territorialidade, tendo em vista a apreensão dos elementos
e processos econômicos, políticos, culturais e naturais determinantes na caracterização do
quilombo e fundamentais para uma possível colaboração na construção de um desenvolvimento
territorial de base participativa e justa. E, para tentar responder a estas questões, tivemos como
objetivo principal construir uma proposta coletiva, participativa e reflexiva de novas
territorialidades e temporalidades com e para o Quilombo Bom Sucesso por meio da pesquisaação-participativa. E, especificamente caracterizar a abordagem territorial histórica e
multidimensional do desenvolvimento de base local; definir as prioridades e o plano de ações
centrado na melhoria das condições de vida das famílias do quilombo; estimular a mobilização
social para implantação participativa e dialógica das ações por meio da investigação-açãoparticipativa (IAP) e descrever o processo histórico-geográfico de ocupação do território
quilombola. Os procedimentos metodológicos na realização da nossa pesquisa foram inspirados
e norteados pela abordagem territorial de orientação prática em íntima relação com a
investigação-ação-participativa, importante para a integração de saberes. Evidenciamos, com
nosso estudo, um processo de construção dialógica, participativa, reflexiva e autônoma de ações
centradas na práxis territorial frente às dificuldades e lutas historicamente sentidas e vividas por
esse povo. Esta pesquisa possibilitou a construção participativa de novas territorialidades e
temporalidades, com e para a comunidade, as conquistas e avanços da nossa práxis territorial
foram, a) infraestrutura: a construção da Praça Nossa Senhora da Conceição; a perfuração de
mais um poço artesiano e acompanhamento (manutenção) dos existentes, melhoraria da
drenagem do rio Moquém no trecho da ponte de acesso ao quilombo e ampliação da casa de
apoio; b) divulgação: elaboração de um logotipo, uma marca de identidade do quilombo e
criação das redes sociais da comunidade; c) formação: criação da Casa Familiar Rural, a
primeira em território quilombola no Maranhão; d) doações: dois computadores, uma
impressora, ar condicionado, uma escrivaninha; e) outras que serão implementadas: construção
de um espaço memorial dedicado a Negro Cosme e a revolta popular da Balaiada; Inserção no
aplicativo “Tô no Mapa” e inclusão no Programa Rota Quilombola. Assim, a concepção
territorial e a metodologia da IAP adotas foram fundamentais, orientando a realização da
pesquisa e das ações realizadas e que continuarão sendo feitas: entramos no território,
estudamos, convivemos e trabalhamos nele.