A prática da acupuntura tem ganhado cada vez mais espaço no trânsito terapêutico brasileiro, principalmente após a implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), em 2006, que assegurou o acesso a diferentes técnicas de tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). A análise do processo de formação de terapeutas acupunturistas desenvolvida neste trabalho visa contribuir com estudos sobre estas políticas de cuidado. Com objetivo de acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem desta terapia, seus desafios e expectativas, realizei um trabalho etnográfico junto a estudantes e docentes do curso de pós-graduação latu sensu em Acupuntura das Faculdades Integradas Espírita (FIES), localizada em Curitiba – PR. A FIES, fundada por Octavio Melchiades Ulysséa, em 1979, oferta cursos de acupuntura desde 1992. A rotina de estágios envolvia atendimentos supervisionados de acupuntura em pacientes da comunidade, uma vez na semana, das 18h às 22h, além de participação em encontros semanais em que um professor apresentava estudos de caso para discussão. O curso era frequentado por discentes com diferentes perfis e formações acadêmicas, de modo que muitos deles transitavam por outras práticas integrativas e complementares. Nesta pesquisa, apresento a experiência vivenciada pelos estudantes durante a formação em acupuntura na FIES, demonstrando as estratégias de aprendizagem e as dinâmicas desenvolvidas no processo de aplicação desta técnica terapêutica. Contextualizo descrevendo a idealização desta instituição, sua estrutura, relação com a doutrina espírita, cursos ofertados e sua metodologia de ensino. A partir da observação da rotina de estágios supervisionados, realizados na clínica presente no campus da faculdade, destaco dois pontos: o trabalho em equipe e a composição do repertório terapêutico. A trajetória percorrida pelos terapeutas nesta aprendizagem é integrada por elementos distintos, compondo experiências pessoais com rearranjos de técnicas e conceitos, criando uma forma própria de compreender e atuar com o processo terapêutico. O desenvolvimento da atenção envolve, portanto, o progressivo domínio técnico da cosmologia da medicina tradicional chinesa (MTC) em conjunto com a sensibilização do próprio corpo, mediado por outros corpos, para aprender a sentir a energia do outro, seu Qi, meridianos e pontos.