Padrões dietéticos que incluam o consumo regular de compostos prebióticos são capazes de
modular a composição e metabolismo da microbiota intestinal humana, exercendo papel
importante na saúde do hospedeiro. A beterraba vermelha (Beta vulgaris L.) é uma importante
espécie olerícola com destacável aporte de nutrientes e de compostos bioativos, com destaque
para as fibras dietéticas, compostos fenólicos e betalaínas. Esse trabalho teve como objetivo
avaliar o potencial prebiótico de liofilizados obtidos de diferentes porções da beterraba
vermelha por meio da verificação de seus efeitos sobre o crescimento e metabolismo de cepas
probióticas (Lactobacillus acidophilus LA-05, Lacticaseibacillus casei L-26 e
Limosilactobacillus fermentum 296) e da microbiota colônica humana em condições in vitro.
Os ensaios foram realizados com liofilizados das porções da raiz (FDBR) e dos talos/folhas
(FDBSL) da beterraba vermelha cultivar Early wonder. FDBR e FDBSL foram submetidos às
análises de determinação da composição nutricional e parâmetros físico-químicos. Em seguida,
cepas de Lactobacillus foram expostas a condições simuladas do trato gastrointestinal na
presença de FDBR e FDBSL, quando foram avaliados aspectos relacionados a viabilidade
celular e functionalidade fisiológica, capacidade antioxidante total e compostos fenólicos totais
durante as três fases principais da digestão (boca, estômago e intestino). Em uma segunda etapa,
novas amostras de FDBR e FDBSL foram submetidas a digestão gastrointestinal simulada e o
produto da digestão foi avaliado em ensaios de fermentação usando-os como única fonte de
carbono para o cultivo das cepas probióticas e para avaliação da modulação da microbiota
colônica utilizando inóculo fecal. Foi calculado o escore de atividade prebiótica e a atividade
metabólica microbiana foi monitorada por meio da determinaão de pH e dos conteúdos de
açúcares e ácidos orgânicos nos diferentes sistemas de cultivo. Também foram monitorados o
perfil de fenólicos e capacidade antioxidante total durante as fases da digestão simulada e
fermentação com inóculo fecal. FDBR e FDBSL apresentaram altos teores de fibras solúveis
(5,25 e 11,10 g/100 g) e insolúveis (21,43 e 37,03 g/100 g), pectinas (8,45 e 9,51 g/100 g),
betalaínas (3,36–28,99 g/100 g) e uma variedade de compostos fenólicos. FDBR e FDBSL
estimularam o crescimento das cepas probióticas testadas com altas contagens de células viáveis
(>9 log UFC/mL), aumento da produção de ácidos acético, butírico, lático e propiônico e
alterações nos teores de compostos fenólicos durante 72 h de cultivo. Ainda, apresentaram
valores positivos de índices prebióticos (≥0,17). Durante a exposição a digestão simulada,
FDBR e FDBSL aumentaram a sobrevivência e manutenção das funções fisiológicas ativas nas
cepas probióticas, indicado pela alta contagem de células viáveis (≥3,5 log UFC/mL) e
percentual de células fisiologicamente ativas (>25,2 % para FDBR e 23,1> % para FDBSL).
FDBR e FDBSL aumentaram a abundância de Lactobacillus spp./Enterococcus spp. (3,64-
7,60%) e Bifidobacterium spp. (2,76-5,78%) e diminuíram a abundância de Bacteroides
spp./Prevotella spp. (9,56-4,18%), Clostridium histolyticum (1,62-1,15%) e Eubacterium
rectale/Clostridium coccoides (2,33-1,49%) durante 48 h de fermentação colônica, resultando
em índices prebióticos positivos (> 3,61). FDBR e FDBSL promoveram intensa atividade
metabólica, evidenciada pela diminuição do pH, aumento da produção de ácido lático, acético,
butírico e propiônico, e consumo de glicose e frutose ao longo do tempo no cultivo dos
probióticos e nos ensaios de fermentação colônica. Alterações no conteúdo de compostos
fenólicos e alta capacidade antioxidante durante a fermentação colônica também foram
observados. FBRD e FDBSL mostraram potenciais propriedades prebióticas, podendo ser
explorados na formulação de produtos alimentícios e suplementos dietéticos funcionais.