A presente investigação é uma análise sobre o Afrorep de Rincon Sapiência e as
sonororidades do espaço afro-atlântico. A partir da obra e a trajetória de Rincon, e tendo como
pano de fundo o processo de reeducação das relações étnico-raciais no Brasil Contemporâneo,
analiso os impactos desse movimento. O marco temporal é delimitado pelo ano de 2001 –
quando o Estado brasileiro reconhece internacional e ineditamente a existência do racismo na
sociedade, um ano após o incío da carreira de Rincon– e o ano de 2022, data da entrevista
gentilmente concedida a mim por Rincon Sapiência. Dessa forma, a pesquisa se debruça sobre
fonogramas e videoclipes do rapper e compositor paulistano, além de cadernos de cultura,
matérias de jornais, entrevistas com e sobre o artista. Rincon Sapiência nasceu no ano de 1985,
contexto brasileiro de construção de uma nova ordem democrática-institucional, crescendo na
Cohab 1, zona periférica da cidade de São Paulo, sua história assemelha-se a de muitos artistas
oriundos das classes trabalhadoras brasileiras. O cantor começa a carreira artística no ano de
2000, tendo seu primeiro sucesso reconhecido só em 2010, desde então o artista vem se
consolidando, nos últimos anos, como um grande expoente do Hip-Hop no Brasil, com um
trabalho que dialoga fortemente com questões contemporâneas do país, com destaque a
temática das relações étnico-raciais. Pensar a obra de Rincon em consonância com o processo
de reeducação das relações étnico-raciais, em marcha nas últimas décadas no Brasil
contemporâneo, nos permite investigar as possibilidades de ação política que se dão no seio do
campo cultural brasileiro. Nesse sentido, a dissertação investiga a musicalidade Afrorep,
enquanto sonoridade do espaço afro-atlântico e a filiação do artista a um circuito diáspórico que
denominei enquanto mineireidade centro-africana. Além disso, mobilizo a ideia de negro em
movimento para compreender a atuação do artista nas redes sociais, e sua preocupação com a
publicização de “novas histórias”. Ao fim, e ao cabo, defino Rincon, também, enquanto
historiador público do tempo presente, por identifiar em sua obra a constituição de íntimas
relações com seu público: a juventude negra, além do engajmento nas discussões do tempo
presente acerca dos territórios negros da cidade de São Paulo, das manifestações culturais
negras e do combate ao racismo e a promoção da igualdade racial.