A água é uma substância fundamental para a manutenção da vida no planeta e influencia nas dinâmicas de ocupação e desenvolvimento desde os primórdios das civilizações. Em Mato Grosso, a rápida evolução do agronegócio, o crescimento demográfico e a ampliação das atividades industriais fizeram com que a demanda por água aumentasse, bem como a degradação ambiental, exigindo ações conjuntas do Estado e da sociedade para o gerenciamento dos recursos hídricos. Nesse sentido, têm-se a Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) que implementa os mecanismos de gestão descentralizada ou policêntrica. Todavia, observa-se que mesmo com essa política, os problemas ambientais relacionados à degradação dos recursos hídricos continuam. No caso da comunidade presente na Terra Indígena Tadarimana, estudos demonstram problemas relacionados à qualidade e disponibilidade da água para o consumo humano. As causas para esses problemas poderiam estar em falhas na operacionalização política de gestão da água e na participação da comunidade nos conselhos de gestão participativos. Com o intuito de compreender os mecanismos que envolvem a participação local e policêntrica da referida comunidade, ou seja, a participação na política de gestão da água dentro da comunidade e nas estruturas regionais de gestão, principalmente no Comitê de Bacia Hidrográfica São Lourenço, realizou-se o presente estudo. Para tanto, a pesquisa utilizou as metodologias de análise institucional IAD Framework e estudo do contexto socioecológico sistêmico (SES), ambas propostas por Ostrom (2002) e (2011). Como instrumentos de coleta foram adotados a utilização de entrevistas com membros do Comitê de Bacia Hidrográfica São Lourenço e moradores da aldeia Tadarimana, além de levantamento bibliográfico e documental. Os resultados demonstram que existe participação da comunidade Boe-Bororo na política de gestão hídrica dentro da aldeia, mas nas estruturas policêntricas (tomando como base a participação no Comitê de Bacia Hidrográfica local) a participação tem apresentado dificuldades, de modo que os princípios de design dependentes da interação com participantes externos não foram devidamente atendidos. Esse resultado demonstra que tem havido obstáculos também no cumprimento do sexto ODS (Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável): “apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento.” De modo que a preservação da água dentro do território indígena é maior do que fora dele, os impactos ambientais sofridos pela comunidade se materializam na poluição das fontes de água superficial e subterrânea, assoreamento de córregos e rios, na escassez hídrica e na falta de peixes para o consumo.