Neste trabalho, trazemos à discussão a necessidade de se considerar a língua portuguesa para além de língua oficial e discuti-la como uma parte da identidade linguística e cultural dos angolanos ao lado das demais línguas consideradas nacionais. Tratamos aqui, com atenção, do português de Angola, compreendido enquanto variedade legítima, entretanto marginalizada, nas instâncias e nos registros que oficializam a língua, conferindo prestígio ao padrão normativo. Trata-se de um estudo com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, tendo como objetivo central discutir a identidade sociolinguística do português em Angola, a partir do uso pronominal no português falado de Luanda. A perspectiva de análise adota a abordagem qualitativa e quantitativa em pesquisa e, em termos procedimentais, os dados da análise foram levantados em amostra de corpora do português falado em Luanda, extraídos no âmbito do projeto de pesquisa Em busca das raízes do português brasileiro, que se encontra na sua terceira fase. A partir das análises, no que diz respeito ao quadro pronominal, a intenção inicial era investigar a flexão de caso pronominal, mas foi identificada, principalmente, a alternância de uso no que concerne ao uso das formas “nós” e “a gente”, razão pela qual, esse foi o fenômeno linguístico escolhido para a realização desta pesquisa. Dessa maneira, os resultados mostram que, quanto ao uso de “nós” e “a gente”, Angola apresenta um comportamento peculiar, apresentando diferenças quantitativas em
relação ao português brasileiro e ao português europeu, mas apresenta similaridades à variedade brasileira em relação a outros fenômenos do quadro pronominal. Compreendemos, assim, esses dados como traços peculiares da norma angolana, que tem se distanciado da norma-padrão europeia que ainda é ensinada nas escolas desse país.