A implantação do Antimicrobial Stewardship Program em hospitais com a participação
do farmacêutico tem apresentado resultados satisfatórios. Apesar disso, esse tipo de
programa parece ainda ser incipiente nos hospitais brasileiros, havendo lacunas na
literatura sobre sua consolidação. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar o
Antimicrobial Stewardship nos hospitais brasileiros e as barreiras para sua
consolidação na perspectiva dos farmacêuticos. O estudo foi conduzido em duas
etapas, intituladas A e B. A etapa A se referiu à construção e validação de uma
ferramenta de coleta de dados que servisse aos objetivos da pesquisa. Tratou-se,
portanto, de um estudo metodológico por meio de ferramenta online elaborada e
validada pelo nosso grupo de pesquisa. O processo de validação de conteúdo foi
conduzido pela avaliação da ferramenta por um painel de especialistas. As análises
da validação de conteúdo utilizaram o Índice de Validade e Conteúdo a Nível de Item
e do Índice de Validade e Conteúdo a Nível de Escala. Na validação semântica pelo
público-alvo utilizou-se o checklist Suitability Assessment of Materials. A Etapa B, por
sua vez, referiu-se à avaliação do Antimicrobial Stewardship nos hospitais brasileiros,
na perspectiva dos farmacêuticos, e das barreiras para sua consolidação. Nessa
etapa, desenvolveu-se um estudo observacional transversal, no qual os dados foram
coletados junto a farmacêuticos inscritos no Conselho Regional de Farmácia que
atuavam nas farmácias hospitalares de hospitais brasileiros, por meio de ferramenta
online. A análise estatística dos dados foi realizada a partir de tabulação no Microsoft
Excel® 365. Variáveis quantitativas como frequência absoluta e relativa, média,
desvio-padrão, mediana e intervalo interquartil foram utilizadas. Também, utilizou-se
o teste de correlação ordinal de Spearman, Teste T e ANOVA. A análise dos dados
foi feita com o programa Statistical Package for the Social Sciences. O nível de
significância utilizado como critério de aceitação ou rejeição nos testes estatísticos foi
de 5% (p<0,05). Na Etapa A, foi possível a validação da ferramenta, que em sua
versão final continha 62 itens organizados em seis seções: i) Dados demográficos; ii)
Local de trabalho; iii) Confiança no desempenho das atividades; iv) Barreiras
percebidas para participação no gerenciamento do programa; v) Elementos essenciais
do programa e vi) Participação do farmacêutico no ASP. Da Etapa B participaram 83
farmacêuticos. Quase metade (45,8%) afirmaram ter o Antimicrobial Stewardship
Program implantado nos hospitais em que trabalhavam. Verificou-se que Antimicrobial Stewardship Program, na perspectiva dos farmacêuticos que participaram da
pesquisa parece estar predominantemente implantado nos hospitais públicos, com
maior número de leitos de Unidade de Terapia intensiva e leitos em geral. As principais
barreiras identificadas para sua consolidação foram: número reduzido de
farmacêuticos na viabilização da implantação do AMS, tempo destinado a outras
demandas da farmácia, efetividade da sua comunicação com os médicos e falta de
acesso às informações clínicas e farmacológicas seguras sobre antimicrobianos no
hospital. Além disso, mostraram-se mais confiantes (p=0,000) e com melhor
percepção quanto às barreiras que interferem sobre a implantação do Antimicrobial
Stewardship Program (p= 0,003) farmacêuticos que trabalhavam onde havia o
programa.