A resistência apresentada por parte dos patógenos existentes no mundo todo, somada a falta
de antimicrobianos inovadores são grandes problemas para a humanidade, principalmente
em tempos pós-pandemia. Nesse sentido, a Química Medicinal se destaca como uma área
muito importante tendo em vista seu papel no descobrimento e planejamento de novos
candidatos a fármacos. Produtos naturais são, há muito tempo, empregados como
substâncias de partida na elaboração de derivados potencialmente bioativos, muitas vezes
por derivatização com grupos químicos reconhecidamente importantes como farmacóforo.
Tendo isso em vista, e levando em conta as pesquisas deste grupo com eugenol e seus
análogos, objetivou-se com deste trabalho sintetizar dezesseis derivados piperazínicos do
eugenol/dihidroeugenol, caracterizá-los, avaliar sua citotoxicidade e suas atividades
antibacteriana, antimicobacteriana e tripanossomicida in vitro. Para a síntese dos derivados,
empregou-se essencialmente a reação de Mannich envolvendo eugenol ou dihidroeugenol,
formaldeído e um conjunto de diferentes piperazinas. As substâncias planejadas,
denominados IRLAE1-IRLAE10 e IRLAD1-IRLAD10 foram obtidas com rendimentos
entre 10-84% e tiveram suas identidades comprovadas por métodos de análise estrutural.
Das 16 substâncias sintetizadas, 13 são inéditas. Das avaliações biológicas, observou-se que
todas elas apresentaram citotoxicidade somente acima de 500 μM e que demonstraram apenas baixa atividade contra o parasita Trypanosoma cruzi (acima de 125 μM). Entretanto,
os derivados IRLAE8, IRLAE9, IRLAE10, IRLAD4, IRLAD9 e IRLA10 mostraram
atividade antibacteriana e antimicobacteriana expressivas (CIM entre 1,22 e 19,53 μg.mL-1)
contra todas as espécies testadas (Mycobacteroides abcessus, Mycobacterium fortuitum,
Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas
aeruginosa), inclusive contra isolados clínicos resistentes. Ainda, essas seis substâncias
mostraram-se ativas contra a formação de biofilmes de espécie em valores de fração da
concentração inibitória mínima. Esses achados apontam parte dos produtos como
promissores e os destacam como bons protótipos para estudos mais aprofundados na busca
de novos antimicrobianos.