O glifosato segue liderando ranking como o princípio ativo mais comercializado no Brasil.
Os seus efeitos no organismo humano e no meio ambiente têm sido analisados e mostram-se
preocupantes, à medida que a exposição ao herbicida aumenta, tanto para a população em
geral, quanto para a de agricultores. Mesmo diante de números tão expressivos, o Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que supervisiona os níveis
de resíduos em alimentos disponíveis no comércio de diversas cidades no país, não inclui
este herbicida em suas análises. Neste contexto, o objetivo deste estudo é realizar uma
avaliação do risco da exposição ao ingrediente ativo glifosato, no município de Casimiro de
Abreu-RJ, realizando, para tanto, aplicação de um questionário sociodemográfico afim de
estabelecer um perfil populacional, análises bioquímicas, biomarcadores de estresse
oxidativo e de exposição vigente para posterior inferências acerca do risco decorrente da
exposição a este agrotóxico. Ainda para agregar nesta avaliação e compreender a resposta
biológica frente à exposição ao glifosato, o metaboloma do sangue de indivíduos
participantes deste estudo foi investigado e posteriormente identificado possível metabólito
correlacionado aos efeitos tóxicos induzidos pelo glifosato. Por fim foi desenvolvido e
validado um método para análises de glifosato e ácido amino metil fosfônico (AMPA) em
amostras de água potável dessa população. Os dados das análises na matriz água foram
usados para avaliar a probabilidade do glifosato produzir efeitos adversos a população de
Casimiro de Abreu. Os participantes do estudo se submeteram previamente a um
questionário sociodemográfico. Dos 82 voluntários, trabalhadores e moradores rurais, 78%
(n= 64) eram do sexo masculino, cor branca, com escolaridade de ensino fundamental,
sendo em sua maioria (84,1%) residentes no município há mais de 10 anos. O perfil do
trabalhador encontrado no presente estudo condiz com o levantamento realizado nas 20
cidades com maior PIB agrícola do sudeste brasileiro. Em relação aos biomonitoramento os
valores bioquímicos todos se mantiveram dentro dos valores de referência, enquanto 77,2 %
dos trabalhadores apresentaram alteração da AChE e 9,1% da BChP. A análise também
revelou um estado de estresse oxidativo, pois os trabalhadores expostos tiveram níveis mais
baixos de superóxido dismutase (SOD), catalase e valores aumentados de peroxidação
lipídica a partir da quantificação de malondialdeído (MDA )em comparação com o grupo
controle. Isso pode indicar uma resposta ao estresse oxidativo causado pela exposição aos
agrotóxicos. Já a análise global da metabolômica de plasma dos trabalhadores rurais obteve
um modelo adequado com R2 = 0,875 e Q2= 0,8. Posteriormente a isso foi possível
identificar um metabólito n-ribosilhistidina, um composto derivado da histidina, associado a
possíveis alterações na via metabólica dos aminoácidos. Apesar de ser um estudo piloto, e necessitarem complementação em relação ao número de amostras e aprofundamento na
interpretação, é possível observar que sugerem o envolvimento do glifosato em vias
metabólicas, que podem levar a efeitos na saúde de trabalhadores expostos a este agrotóxico
Por fim os resultados da validação do método para a determinação de glifosato e AMPA em
água, por cromatografia líquida, em fase reversa, coluna C18, com detecção por
fluorescência, mostraram que o método é linear, r2 de 0,9931 e 0,9903; preciso, cujo
percentual variou de 9,4 a 19,7%, e exato, variando de 4,71 a 14,2%, com limites de
detecção (LOD) e quantificação (LOQ), adequando-se à finalidade do estudo, variando de
0,06 a 0,24 (ppb) e 0,08 a 0,19 (ppb), respectivamente. A análise de água, coletada no
munícipio de Casimiro de Abreu-RJ, apresentou positividade das amostras coletadas antes e
durante o período de aplicação. O quociente de risco (HQ) calculado para o glifosato e
AMPA indica um risco significativo à saúde associado à exposição ocupacional e ambiental
a população rural estudada. Nesse sentido, diante dos resultados apresentados, é possível
identificar a relevância do estudo bem como a aplicabilidade dos resultados futuramente
demonstrados aos gestores e equipe técnica do município, uma vez que a preocupação com o
uso indiscriminado associado à flexibilização das leis vigentes para as quantidades de
agrotóxicos especialmente na água impacta diretamente o meio ambiente e a saúde da
população rural.