A produção, circulação e leitura de textos em ambiente digital estão atravessadas pelas
plataformas online. Por isso, vivemos uma cultura digital pós-plataformas cada vez mais
implicada pela comunicação mediada por algoritmos e pela tradução de tudo em dados
numéricos. Esta pesquisa investiga a reconfiguração das práticas de escrita e edição a partir
das lógicas algorítmicas do Google, que se firmou como uma plataforma infraestrutural capaz
de ordenar, filtrar e selecionar a produção imaterial online. A incorporação de técnicas em
resposta às demandas de ranqueamento do Google é comum e praticada de modo ambivalente
por produtores e editores de texto. A ambivalência está no fato de que esses produtores se
sentem, por um lado, na condição de ter que equilibrar seu trabalho entre a relevância para
públicos e para algoritmos; por outro, muitos deles criam táticas de produção que parecem
vencer a caixa-preta do Google em nome da performance de conteúdos. Esta pesquisa tem
como suporte teórico a Linguística Textual, com referências que compreendem o texto não
com base em sua essência, mas, sim, diante de suas condições de produção, circulação e
leitura, ou seja, a partir da sua existência. Como inspirações metodológicas, temos os Estudos
de Plataformas, Estudos de Algoritmos e Métodos Digitais, que têm matrizes conceituais
originárias dos Estudos de Ciência e Tecnologia. Recorremos também aos Estudos de Busca
na Web, que, por sua vez, alimentam-se de ideias do campo de Recuperação da Informação.
No percurso de pesquisa, integramos duas etapas de métodos qualitativos: 1) análises
documentais da plataforma de busca Google, para compreensão de funcionamento e
governança; 2) experiências de escrita e edição de textos, em um espaço simulado no
WordPress.com, para observar as práticas incorporadas por produtores e editores. O corpus da
etapa 1 é composto por documentos que têm ênfase jurídica e tentam proteger o Google de
atitudes danosas praticadas por seus usuários. Também há documentos que dizem respeito às
expectativas da plataforma sobre o que é apropriado ou não durante o uso do motor de busca
e, ainda, sobre o que é ideal para alcançar melhores performances de circulação de conteúdo.
O corpus da etapa 2 é composto por cinco textos que representam diferentes modos de
produção, objetivos, públicos e gêneros discursivos. Na análise, emergiram cinco categorias
que nos permitem entrelaçar a elegibilidade algorítmica do Google com as práticas de escrita
em ambiente digital. Concluímos que a plataformização do texto é o fenômeno composto pelo
atravessamento de critérios algorítmicos e normatizações, definidas pelas plataformas de
busca, na escrita e edição. Demonstramos que o Google mudou nosso jeito de escrever,
porque consolidou como quase inevitável seu modelo de indexação e classificação, que
tensiona produtores de texto a redigir pensando em uma relevância mitológica. Esse
tensionamento faz surgir o texto plataformizado, de caráter imanente e contingente, que se
constrói de modo hipertextual, pela natureza do meio e dos processos de leitura, e em atenção
ao desempenho para a visibilidade.