A tese é resultado de uma pesquisa sobre o protagonismo de igrejas e aparelhos privados de
hegemonia evangélicos, bem como a atuação de seus intelectuais orgânicos, no contexto do processo
que caracterizamos como a escalada do fascismo no Brasil, decorrente do projeto bolsonarista de
fascistização, considerando suas determinações históricas, por sua vez indissociáveis do
aprofundamento da crise orgânica do capital e do adensamento e ascensão de uma frente de ação
ideológica liberal-ultraconservadora no país. A partir do embasamento no arcabouço teórico marxista
de Antônio Gramsci, ancorada na concepção de Estado ampliado (integral) como ferramenta teóricometodológica, a pesquisa buscou identificar e analisar as estratégias para educar para o consenso
através da caracterização da nova pedagogia da hegemonia evangélica, bem como sua relação com o
bolsonarismo e as disputas que envolveram as políticas educacionais circunscritas pela ideologia
escola sem partido, por sua vez articuladas às renovadas estratégias coercitivas intrínsecas à
autocracia burguesa no capitalismo dependente e periférico. O recorte temporal específico
estabelecido foi o período do governo do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), estando o foco
voltado para a análise da atuação do segmento evangélico através do Ministério da Educação (MEC)
e da Frente Parlamentar Evangélica (FPE). O estudo identificou duas predominâncias na atuação do
segmento, referentes às políticas educacionais: a) a disputa pela modelagem do comportamento de
estudantes, docentes e responsáveis legais, através da política de militarização das escolas, articulada,
a um só tempo, às competências socioemocionais estabelecidas por organismos multilaterais do
grande capital e aos elementos fascistizantes do receituário bolsonarista; e b) a disputa pelo sentido e
pela função da instituição social família, através da defesa da Educação Domiciliar, articulada a outras
estratégias de caráter fundamentalista cristão, ultraconservador e reacionário, voltadas para a
restauração do sentido e para a refuncionalização da família. Concluímos que as articulações voltadas
para essas políticas, que contaram com o adensamento e a mobilização de aparelhos privados de
hegemonia evangélicos, no conjunto da atuação da frente liberal-ultraconservadora, caracterizaram a
interface da nova pedagogia da hegemonia evangélica com o projeto bolsonarista de fascistização,
representando, assim, o alinhamento dos intelectuais e aparelhos hegemônicos dirigentes do
segmento evangélico ao bolsonarismo, que foram constituídos e ao mesmo tempo constituíram, no
período analisado, o processo de fascistização no Brasil.