Estudos recentes sugerem que a empatia pode ser um fator importante para motivar as pessoas
a se engajarem em ações de prevenção do suicídio. Contudo, até o momento, a associação entre
empatia e disposição para ajudar pessoas em risco de suicídio foi investigada apenas de maneira
direta, não se verificando como esta relação poderia ser moderada por outras variáveis. Na
presente tese, levantou-se a hipótese que a autoeficácia e o conhecimento (factual e percebido)
sobre o suicídio poderiam funcionar como moderadoras da relação supramencionada. Desse
modo, o principal objetivo deste trabalho foi investigar o papel moderador da autoeficácia e do
conhecimento sobre o suicídio na relação entre empatia e disposição para ajudar pessoas em
risco de suicídio. Para atingir o objetivo proposto, foram conduzidos diferentes estudos
organizados em quatro artigos empíricos. O primeiro artigo, que contou com a participação de
448 sujeitos (76,8% mulheres; Midade = 33,94; DP = 14,80) da população geral, buscou adaptar
a Gatekeeper Self-Efficacy Scale, agora nomeada como Escala de Autoeficácia na Prevenção
do Suicídio (EAPS), tendo-se observado que a medida em questão apresenta evidências de
validade para uso no contexto brasileiro. O segundo artigo, por sua vez, realizado com 498
brasileiros (Midade = 33,84; DP = 14,20), investigou a qualidade dos itens da Escala de
Conhecimento sobre o Suicídio – Forma Reduzida (ECSS-FR), por meio da Teoria de Resposta
ao Item, verificando-se parâmetros adequados de discriminação e dificuldade dos itens para o
público investigado. O terceiro artigo apresentou o processo de construção e as evidências
preliminares de validade da Escala de Conhecimento Percebido Sobre o Suicídio (ECPSS) para
o contexto brasileiro, tendo sido realizado com dados de 410 pessoas da população geral,
majoritariamente mulheres (68,5%), com idades variando de 18 a 75 anos (Midade = 34,99; DP
= 15,75). Estando de posse dos instrumentos adequados para medir nossas variáveis de
interesse, o último e mais importante artigo da tese buscou responder a sua problemática central
e investigar o papel moderador da autoeficácia e do conhecimento (factual e percebido) sobre
o suicídio na relação entre empatia e disposição para ajudar. Participaram da pesquisa 1096
adultos brasileiros, majoritariamente do sexo feminino, com idades variando de 18 a 60 anos
(Midade = 32,08; DP = 12,34). Estes participantes responderam a Escala de Apoio à Pessoa em
Risco de Suicídio, ao Interpersonal Reactivity Index, a EAPS, a ECSS-FR, a ECPSS e a um
questionário sociodemográfico e psicossocial. Para atingir o objetivo proposto foram realizadas
análises moderação, por meio do software Jamovi (versão 2.3.26). Essas análises demonstraram
que a empatia (β = 0,19; EP = 0,01; p < 0,001), a autoeficácia (β = 0,12; EP = 0,02; p < 0,001),
o conhecimento factual (β = 0,17; EP = 0,09; p < 0,001) e o conhecimento percebido (β = 0,21;
EP = 0,05; p < 0,001) predizem significativamente a disposição para assistir alguém em risco
de suicídio. Ademais, as análises de moderação evidenciaram que a relação entre empatia e
disposição para ajudar é acentuada à medida que o conhecimento percebido aumenta. Em
conjunto, os resultados da tese demonstram que a empatia é, de fato, uma força motriz da
disposição para ajudar alguém em risco de suicídio, mas existem fatores que podem acentuar
esse aspecto motivacional, devendo estes serem levados em consideração na formulação de
intervenções para prevenção do suicídio que adotem a promoção da empatia em seu escopo.