Esta pesquisa surgiu a partir de uma preocupação sobre uma proposta que integra o debate público educacional desde os anos 2000 com o surgimento do movimento Escola sem Partido (EsP), mas ganhou protagonismo a partir das eleições de 2018 e no contexto do governo de Jair Bolsonaro. A Educação Domiciliar (ED), ou homeschooling, é uma modalidade de educação organizada e implementada pelos próprios pais como alternativa de escolarização de seus filhos em casa, e não na escola, podendo ainda utilizar a contratação de professores particulares e a aquisição de materiais didáticos específicos. Para tanto, por via dos postulados de uma pesquisa bibliográfica, a base teórica deste estudo se apoiou predominantemente em Vasconcelos e Boto (2020), Casanova e Ferreira (2020), Araújo e Carvalho (2021), Laval (2019), Lockmann (2020) e Streeck (2012). Insta salientar que, enquanto tese de doutorado, este trabalho se insere na área de concentração relacionada ao trabalho, sociedade e educação. Dessa forma, esta tese defende que, sob os argumentos de direito de liberdade de escolha e de ser a escola uma instituição doutrinadora e partidária de determinadas crenças e ideologias, a educação domiciliar tem sido difundida na sociedade brasileira como solução para a crise educacional, paralela ao contexto de terceirização/privatização paulatina da educação básica pública. Assim, objetivamos neste estudo compreender a relação entre a doutrina neoliberal e a proposta de política educacional para a educação domiciliar. Como objetivos específicos propomos: a) problematizar o projeto de educação domiciliar, que atende à demanda neoliberal de privatização da educação pública; b) analisar como foi construído o discurso da crise da educação pública no contexto do suposto determinismo ideológico, e como esse pensamento evoluiu para a proposição da alternativa de educação domiciliar; c) entender a preocupação do neoliberalismo com a educação; d) identificar as congruências entre a proposta de educação domiciliar e a doutrina neoliberal. Com isso, comprovamos como essa proposta se aproxima ao ideário neoliberal, cujas características perpassam pela intervenção mínima do Estado, pela privatização/terceirização de instituições públicas e pela valorização do individualismo. Isto posto, corroboramos a ideia da educação domiciliar como uma estratégia empresarial, provinda das classes altas e dominantes, que age na contramão da construção de um projeto democrático, igualitário e de valorização da diversidade e da coletividade. Logo, sob o prisma neoliberal, a educação domiciliar é vista como um novo nicho mercadológico para exploração capitalista, capaz de transformar a educação em uma mercadoria bastante rentável para aqueles que souberem comercializá-la, e não como processo de formação e desenvolvimento físico e intelectual de todo ser humano.