A presente pesquisa propõe cotejar as obras traduzidas de Cristovão Tezza (1952-), com o objetivo
de verificar e analisar como sua escrita literária é mediada para a língua inglesa, na identificação
de caminhos e de escolhas adotadas pelos tradutores, principalmente ao que tange à recuperação
(ou não) das linhas de expressão criativa do autor. Para tanto, identificamos os vocábulos de alta
chavicidade nas obras de Tezza, a partir de um corpus reunido para fins da atual pesquisa, por um
conjunto expressivo de seus romances publicados até o momento. Com base no estudo de suas
obras que apresentam tradução para língua inglesa, tais como Breve espaço (2013) / Brief space
between color and shade (2014) e O filho eterno (2007) / The eternal son (2013), respectivamente,
por Alan C. Clarke e Alison Entrekin, foi possível destacar características da linguagem da
tradução, conforme Baker (1996). De modo específico, nos propomos a mapear trechos em que os
cinco vocábulos de maior chavicidade e expressivos no tocante à escrita tezziana, ocorrem, em
concomitância com a análise de sua transposição contextual para o texto traduzido. Para o estudo
de seu par tradutório baseamo-nos em contexto de ocorrência, não apenas em correspondência
tradutória, mapeando comportamentos linguísticos-tradutórios de Entrekin e Clarke nos trechos
expressivos da estética tezziana com os vocábulos de alta chavicidade. Dessa forma, aportados no
uso do programa computacional WordSmith Tools, versão 8, e suas ferramentas para o
levantamento dos dados, ressaltamos, no conjunto de obras de Tezza, a frequência elevada dos
vocábulos: pai (BE: frequência: 101; chavicidade: 2.786; OFE: respectivamente, 214; 611); father
(BSBCS: 85; 113,27; TES: 185; 635.03); puta (BE: 14; 76,27; OFE: 11; 61.91, não encontrando
correspondências na frequência e chavicidade nos TTs); vida (BE: não há; OFE: 191; 227.10); life
(BSBCS: não há; TES: 165; 227,10); silêncio (BE: 80; 1.115; OFE: 32; 25.93); silence (BSBCS:
53; 137.52; TES: 30; 58,60), filho (BE: não há; OFE: 294; 1.051,20) e son (BSBCS: não há; TES:
247; 1.218,90). Para compreender as linhas de expressão criativa de Cristovão Tezza, nos
ancoramos aos principais trabalhos acadêmicos publicados até o momento, a saber: Kobs (2000),
Amborska (2003), Almeida (2011), Fuscaldi (2013), Vale (2014) Silva (2016) e Fernandes (2017);
também em entrevistas e obras teóricas do autor. Destacamos três pontos de convergência entre
suas obras romanescas: o duplo de sua autoficção, resgatado em trechos com ocorrência da palavra
pai, filho e vida, a vertigem da linguagem tezziana, recuperada nas ocorrências de silêncio e a
influência da oralidade nas obras tezzianas, com o mapeamento do vocábulo puta. Quanto ao nosso
arcabouço teórico-metodológico, aportamo-nos nos Estudos da Tradução Baseados em Corpus
(Baker, 1993, 1995, 1996), com o intuito de analisar a frequência e índices de chavicidade. Os
Estudos da Tradução Baseados em Corpus e a Linguística de Corpus permitiram a exequível
pesquisa com o extenso corpus analisado e a identificação de tendências nas traduções das obras
de Cristovão Tezza pela normalização, tornando suas obras mais simplificadas e fluídas para os
leitores estrangeiros