A arte literária, por seu caráter plurissignificativo, é capaz de nos inquietar ao criar diferentes
contextos de enunciação. O presente estudo visa analisar as novas escrituras e as múltiplas
vozes das narrativas contemporâneas produzidas por Conceição Evaristo e Itamar Vieira
Junior impressas em seus romances Becos da memória (2020) e Torto arado (2019),
respectivamente, na intenção de compreender a conexão entre ficção e realidade sob o prisma
da presença ancestral no processo construtivo dessas histórias. Assim, os escritores revisitam
o passado por meio da memória de seus antepassados, com o intento de criar uma consciência
identitária para aqueles que sempre se sentiram excluídos. Este trabalho, portanto, tem como
pináculo legitimar e fortalecer o protagonismo feminino negro na construção dos romances
em estudo pelo olhar do próprio negro. Trata-se de uma pesquisa de cunho bibliográfico em
que se tem como referencial teórico autores como: Antonio Candido (2019), Beatriz
Nascimento (2021), Cuti (2010), Karl Erik Schollhammer (2009), Aleida Assmann (2016),
Ecléa Bosi (2004), Kabengele Munanga (2012), Lélia Gonzalez (2020), Leyla Perrone-Moisés
(2016), Maurice Halbwachs (2013), Márcio Seligmann-Silva (2020), Neuza Santos Souza
(1983), Tânia Pellegrini (2018), entre outros, com análises dos romances Becos da memória,
de Conceição Evaristo e Torto arado, de Itamar Vieira Junior. Mesmo distantes
geograficamente, os escritores compartilham histórias de vidas que se entrelaçam em
temáticas marcadas pela negação social, violência, silenciamento e resistência. Esta pesquisa
resulta em identificar o fazer literário pelo próprio negro e o empoderamento da voz das
protagonistas negras que ecoam as memórias individuais e/ou coletivas adversas de um Brasil
vulnerável perante as desigualdades sociais ainda presentes na contemporaneidade