Com base em evidências científicas, observa-se um aumento de casos de
exposição ao mercúrio (Hg) no Estado do Pará. Os estudos destacam as
peculiaridades do ecossistema amazônico, onde os peixes, animais silvestres e
o homem, estão com níveis acima dos valores de normalidade do Hg, resultantes
da prática do garimpo ilegal, da elevada taxa de desmatamento, incêndios
florestais, exploração madeireira, das mudanças no uso da terra, da instalação
de usinas hidrelétricas e da exposição ocupacional. Tais fatores sugerem que a
exposição ao mercúrio na Amazônia é crônica e multifacetada, o objetivo geral
da pesquisa, foi verificar a ocorrência de alterações salivares em moradores da
região ribeirinha do Tapará (Santarém-PA) e sua relação com a exposição
mercurial. Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem observacional,
do tipo transversal, descritiva e quantitativa, realizada no município de Santarém-
PA no segundo semestre de 2023. Está pesquisa está vinculada ao protocolo
de pesquisa aprovado pelo CEP, sob o parecer de nº 6.326.716. Foi aplicado um
questionário semiestruturado que foi elaborado baseado nos protocolos para
avaliação ambiental e de saúde, de acordo com as orientações da OMS (UNEP,
2008). Foi realizada a coleta de saliva e sangue. Com os dados obtidos, foi
realizada uma análise descritiva dos níveis de Hg. Também foi realizada uma
descrição dos níveis de Hg em função das variáveis do perfil epidemiológico,
descrição dos níveis das enzimas salivares, foram calculadas as medidas de
tendência central e dispersão com a utilização do programa Excel, componente
do Microsoft Office® (versão 2010). Foram selecionados testes estatísticos não
paramétricos para a análise de dados com um nível de significância de 5%. Dos
41 participantes do estudo, 21 deles apresentaram média de HgT na amostra de
18,2 μg/L. O perfil salivar não demonstrou correlação estatisticamente
significativa com a exposição ao mercúrio. A maioria dos participantes estão nas
faixas etárias de 41-60 anos e acima de 61 anos, e do total de 41 participantes,
27 (65,9%) são mulheres, embora os níveis mais elevados de Hg tenham sido
encontrados no sexo masculino. Aqueles que consomem peixe com alta
frequência representaram 97,6% (N=40), apresentando os maiores níveis de
mercúrio. Neste estudo, apresentamos pela primeira vez que a exposição
crônica de pessoas ao Hg sugere alterações no perfil salivar. Observou-se uma
diminuição das proteínas totais salivares 85,4%(N= 35) e Amilase70,7% (N= 29),
o que pode sugerir danos a glândula salivar, foi verificada também a redução da
capacidade de defesa antioxidante do organismo 95,1% (N=39) e o aumento da
peroxidação lipídica, na saliva dos pesquisados 82,9% (n = 34). A análise da
saliva permanece pouco explorada, com a maioria dos estudos na saliva de
animais expostos ao Hg. As análises da saliva podem antecipar danos induzidos
pela exposição precoce ao mercúrio e podem ser usadas como um método de
diagnóstico complementar. Este estudo sugere que o mercúrio pode estar
associado a alterações na bioquímica oxidativa salivar, incluindo aumento da
peroxidação lipídica e diminuição da capacidade antioxidante, em resposta à
injúria causada pelo mercúrio.